No seu Manifesto por um Novo Teatro, Pier Paolo Pasolini (1922-1975) escrevia: “Espera-se que o espectador oiça mais do que veja. As personagens são ideias a serem ouvidas.” Orgia, a sua primeira peça – que dirigiu em 1968, em Turim, com a atriz Laura Betti no papel principal –, é descrita como “um teatro de palavras conjugadas pela carne”. Num sombrio dia de Páscoa, um casal pequeno burguês (interpretado por Albano Jerónimo e Beatriz Batarda) traz à tona os seus desejos e entrega-se a rituais sadomasoquistas. Condicionado pela sociedade opressora e pela formação judaico-cristã, não consegue ultrapassar a culpa pela duplicidade da sua vida. O texto contribuiu para a imagem de rebelde e marginal que acompanhou Pasolini até à sua morte, em 1975. “É um provocador, aborda temas muito fortes, sobre o que há de mais profundo, essencial e transformador”, aponta Nuno M. Cardoso, que aqui colabora com a companhia TN21.
O facto de, em 2022, se celebrar o centenário do nascimento do cineasta, poeta e escritor italiano foi coincidência. “Há muitos anos que queria trabalhar Pasolini e algumas das questões filosóficas e políticas que para ele são essenciais e me tocam profundamente; existe também a carga poética das suas palavras e toda a dimensão trágica”, sublinha o encenador. O elenco é de luxo. “O texto é de uma exigência tremenda para os atores [a dupla referida partilha o palco com Marina Leonardo], não só no discurso, como no corpo, e no corpo em confronto com o espaço cénico criado pela Ivana Sehic, que desenhou uma espécie de altar sacrificial”, explica. No final do espetáculo, haverá uma conversa entre a equipa artística e o público, tal como fazia Pasolini, convicto de que o teatro servia o diálogo e não era um produto de consumo da cultura de massas.
Orgia > Culturgest > R. Arco do Cego, 50, Lisboa > T. 21 790 5155 > 7-9 abr, qui-sex 21h, sáb 19h > €14> Teatro Constantino Nery > Av. Serpa Pinto, Matosinhos > T. 22 939 2320 > 18 mai, qua 21h