Depois de Graças a Deus, filme em que abordava, sem receios, o escândalo de abuso sexual de menores na Igreja francesa, François Ozon volta a um cinema de causas, desta vez para tratar o sempre polémico e fraturante tema da eutanásia. Ozon não é um realizador particularmente elegante, os seus filmes oscilam e nem sempre consegue cumprir os patamares que pretende alcançar (o anterior, Verão de 85, era o exemplo de um filme não conseguido). Mas, apesar de alguma irregularidade e pontos dispensáveis, Correu Tudo Bem, a partir de um romance de Emmanuèle Bernheim, torna-se um dos seus mais interessantes filmes, a começar pela ironia do título.
Abordando um tema delicado, Ozon não se fica pela ideia de um filme-tese, de prós e contras, e dá-lhe textura, com a criação de personagens com alguma densidade psicológica, sobretudo as filhas, que vivem intensamente a morte e a vida do pai, numa espécie de psicanálise feita com a vida real (explora mesmo a dimensão freudiana da ideia de matar o pai). Esses são os melhores momentos que acomodam o drama central, que não deixa de ter um lado quase documental, instrutivo ou antropológico. Contudo, Ozon não consegue resistir à ideia de peripécia, talvez para proporcionar ao espectador momentos de comic relief, com a introdução de personagens pouco trabalhadas e estereotipadas, levando o enredo por alguns lugares-comuns. Não obstante, um filme altamente eficaz no seu nobre objetivo de promover e provocar o debate.
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Correu Tudo Bem > De François Ozon, com Sophie Marceau, André Dussollier, Hanna Schygulla > 113 minutos