Na sua nobre missão de redescoberta de grandes nomes do cinema mundial, a Leopardo Filmes propõe-nos para este verão um dos maiores. O francês Éric Rohmer, cujo centenário do nascimento se comemora, é uma das mais influentes figuras da Nouvelle Vague, ao lado de Jean-Luc Godard ou François Truffaut. Têm em comum a base teórica e literária bem assente… Rohmer foi professor de Literatura e diretor da revista de referência Cahiers du Cinéma. E essa vinculação intelectual e intelectualizante é perfectível em muitos dos seus filmes.
A extensa retrospetiva da Leopardo começa com cinco filmes: a sua primeira obra, O Signo do Leão, e quatro dos seus Contos Morais. Na obra de estreia, é evidente uma imensa liberdade estilística, próxima dos primeiros filmes de Godard, mas com uma componente quase de tese sociológica, ao transformar um homem rico em vagabundo, e vice-versa. Nos quatro contos, há a curiosidade de perceber de que forma o seu vanguardismo pode ser encaixado nos preconceitos da sociedade atual. A questão da moral ou imoral é omnipresente. A emancipação sexual da mulher, que provoca em alguns casos a inversão dos papéis típicos de género, não retira necessariamente a sua objetificação por parte do homem, até porque as personagens masculinas são tendencialmente calculistas, irresistíveis e manipulatórias.
Sobressai uma ideia de tese, com personagens em constante e explícita autoanálise, propondo-nos um debate sobre o amor. O homem, sempre no centro, tanto aparece como alvo da sedução feminina, como acontece em A Minha Noite em Casa de Maud e O Amor às Três da Tarde, como se dispõe a esquemas perversos e sofisticados, como os jogos perigosos de A Colecionadora ou o fetichismo obsessivo de O Joelho de Claire. Em todos os casos, estamos perante filmes maiores, que ajudaram a criar um novo cinema.
Ciclo Éric Rohmer – 1º Capítulo > Cinema Medeia Nimas > Av. 5 de Outubro, 42B, Lisboa > Teatro Campo Alegre > R. das Estrelas, Porto > 15 jul-4 ago