Fabio Bucciarelli enuncia o que todos sentimos neste último ano: “A Covid-19 mudou não apenas as nossas vidas mas também o mundo tal como o conhecíamos.” O fotógrafo italiano de 41 anos, que trocou a engenharia de telecomunicações pela fotografia documental, galardoado com um rol de prémios (Medalha de Ouro Robert Capa, World Press Photo, Sony International Photography…) acompanhou as equipas da Cruz Vermelha em Bérgamo, Itália, região devastada pelo vírus, numa reportagem encomendada pelo New York Times. “Desde o início de 2020, voltei muitas vezes ao epicentro da pandemia na Europa com o objetivo de criar um corpo de trabalho com utilidade para a nossa consciência coletiva, mas que também pudesse perdurar como uma memória iconográfica do nosso tempo”, afirma Bucciarelli. Quando Tudo Mudou tem solidão, desespero, resiliência. O mesmo sentido de missão insufla as oito exposições do Prémio Estação Imagem 2021 Coimbra.
A cumprir a sua quarta edição nesta cidade, o galardão nacional vai-se tornando imprescindível e é o único dedicado ao fotojornalismo na Península Ibérica. As lutas contra a Covid-19 são, claro, um tema incontornável, captado na Amazónia por Felipe Dana ou na pungente reportagem de Manuel Roberto no Hospital de São João, no Porto. Mas os ecos da América sacudida por Trump e pelo movimento Black Lives Matter também reverberam aqui, nas imagens da Agence France-Presse (AFP), assim como os dramas dos refugiados e as revoluções falhadas. Para ver, há ainda os trabalhos vencedores de 2020, e Nós, Europeus, coletiva dedicada à relação de Portugal com a Europa, patente até 5 de setembro no Convento de São Francisco, com obras de 28 fotógrafos nacionais.
Oito exposições a não perder:
1.Teste à Democracia Americana, de Kerem Yücel
Uma mulher emocionada junto a um memorial dedicado a George Floyd, em Minneapolis, no Minnesota, após um dia de protestos a exigir justiça pela sua morte às mãos da polícia. Evocativa das profundas divisões políticas e raciais nos EUA, é uma das muitas imagens recolhidas pelos fotógrafos da agência AFP. Centro Cultural Penedo da Saudade > até 31 jul, ter-dom 14h-20h
2. Tulipas Desvanecidas, de William Daniels
O dia das eleições parlamentares de 2007 captado numa aldeia próxima de Bishkek, no Quirguistão (onde teve lugar a Revolução das Tulipas em 2005), em que, alegadamente, ocorreram irregularidades. Toda a oposição obteve apenas sete assentos em 89 (e o maior partido de opositores não conquistou nenhum). Mosteiro de Santa Clara-a-Velha > até 25 jul, ter-dom 10h-19h
3. Morte e negação na Amazónia, de Felipe Dana
Funcionários da funerária SOS transportam num barco o caixão de uma suposta vítima mortal de Covid-19, uma mulher de 86 anos, oriunda de uma comunidade ribeirinha perto de Manaus, Brasil (a capital da Amazónia é das cidades mais atingidas pela pandemia). Café-Teatro Académico de Gil Vicente > até 24 jul, seg-sáb 14h-22h30
4. Vozes, de Muhammed Muheisen
Uma mãe paquistanesa, deslocada internamente devido às enchentes na aldeia onde morava, na província de Sindh, brinca com a filha no exterior da tenda onde vivem por agora, nos arredores de Islamabad, Paquistão. Na última década e meia, este fotógrafo empenhou-se em que se conheçam os nomes, idades, histórias e sonhos de refugiados e deslocados. Museu Municipal de Coimbra – Edifício Chiado > até 25 jul, ter-sex 10h-19h, sáb-dom 10h-13h/14h-18h
5. Abandonando o Sonho Venezuelano, de José Sarmento Matos
Prémio Estação Imagem em 2020, Sarmento Matos acompanha as duas realidades de uma família luso-venezuelana. Aqui, Carla, 28 anos, e o irmão Francisco, 36, a caminho da casa dos seus pais em Las Tunitas, distrito de Vargas, Venezuela. Meses antes, os pais voltaram para a Madeira, fugindo da crise humanitária e deixando casa, filhos e o “sonho venezuelano”. Galeria Pinho Dinis – Casa Municipal da Cultura > até 24 jul, seg-sex 9h-19h30, sáb 11h-13h/14h-19h
6. Quando Tudo Mudou, de Fabio Bucciarellic
Teresina Coria, 88 anos, um caso suspeito de Covid-19, é ajudada pelo filho Ezio e por voluntários da Cruz Vermelha Italiana a deitar-se na sua cama, em Pradalunga, província de Bérgamo, Itália – um dos epicentros da epidemia que o fotógrafo documentou intensamente. Sala da Cidade – Câmara Municipal de Coimbra > até 10 jul, ter-sáb 13h-18h
7. Onde dormem as crianças, de Magnus Wennman
Fryad, 6 anos, escapou de Amuda, no Norte da Síria, para a zona de fronteira com a Turquia, fugindo ao Estado Islâmico. Agora dorme debaixo de um toldo branco no campo de refugiados de Bardarash, no Curdistão iraquiano, ao lado da bolsa e da mala de viagem com os pertences que a família conseguiu levar. Tal como centenas de outros deslocados, espera por uma tenda. Galeria da Casa-Museu Bissaya Barreto > até 24 julho, ter-sex 11h-13h/15h-18h
8. SNS – Covid-19: Mobilização Geral, de Manuel Roberto
Imagens do Hospital de São João, no Porto, transformado no hospital Covid que acolheu o maior número de doentes infetados, incluindo recém-nascidos que tiveram de ser testados à Covid-19. Galeria Pinho Dinis – Casa Municipal da Cultura > até 24 jul, seg-sex 9h-19h30, sáb 11h-13h/14h-19h
Gonçalo Delgado foi o vencedor desta edição do Prémio Estação Imagem com uma reportagem do fotojornalista no Hospital de Braga nas unidades de cuidados intensivos e de obstetrícia durante o período negro das infeções de Covid-19. A fotografia do ano foi entregue ao galego Brais Lourenzo Couto: a imagem de uma idosa a celebrar os 98 anos numa residência de idosos em Ourense.
Prémio Estação Imagem Coimbra > até 24 jul > grátis > estacao-imagem.com/pt