Numa altura em que Hollywood se deixa dominar por um novo politicamente correto, ligado a causas que deseja ver refletidas no cinema, é refrescante ver chegar um filme como Mais uma Rodada, que aborda o tema do álcool de forma moralmente desprendida e, por isso, verdadeiramente subversiva. Não é feito um louvor ao velho deus Baco, mas tão-pouco acontece o oposto. A exploração do tema é feita com grande originalidade, tendo como base uma ideia de experimentação social, ou de tese, comum a vários filmes da escola Dogma.

Thomas Vinterberg, que talvez seja o nome mais conhecido da Dogma a seguir a Lars von Trier, já desafiara convenções sociais e explorara o choque em dois filmes à volta da pedofilia. Primeiro, com A Festa, em que o aniversário do avô descamba nas mais pecaminosas e doentias revelações; depois, em A Caça, sobre a injusta condenação social de um educador de infância por um crime que não cometeu. Agora, entra a fundo num outro tabu social, com grande criatividade.
O ponto de partida é fabuloso. Um grupo de amigos e professores cria a teoria de que o homem nasceu com 0,5 g/l de álcool no sangue, uma quantidade aquém da ideal para o gozo pleno dos seus recursos sociais e humanos. Assim, os amigos passam, discretamente, a consumir álcool na justa medida, durante o dia, para assegurar que estão nas suas máximas capacidades. E vão anotando os resultados da experiência, com o fim de comprovar ou rebater a tese. Como qualquer bom filme do Dogma (e bom estudo sociológico), a experiência é levada ao exagero, para além dos limites, na busca da rotura social, do desequilíbrio, por vezes irreversível. Não há um desfecho moralista nem libertino. Tudo funciona, antes, como uma brincadeira de adultos que deve ser levada muito a sério.
Veja o trailer do filme “Mais uma Rodada”
Mais uma Rodada > De Thomas Vinterberg, com Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang > 117 min