Nas escolas de cinema suecas, Ingmar Bergman e Roy Andersson são, por vezes, colocados em pedestais em cantos opostos, numa espécie de réplica da rivalidade entre Beatles e Rolling Stones – há que escolher quem mais se ama. Contudo, observadas as cinematografias, chega-se à conclusão que, tal como acontece com as bandas britânicas, na essência, são muito parecidos. E essa essência talvez se possa definir, em traços largos, como um olhar ácido sobre a existência.
Andersson, 77 anos, é um dos maiores génios do cinema contemporâneo. Da Eternidade segue a trajetória da sua brilhante Trilogia da Vida (Tu, que Vives, Canções do Segundo Andar e Um Pombo Pousou…). A estrutura e a linguagem são semelhantes. É um cinema feito de sketches interligados. Cada cena é um quadro, imaculadamente composto, geralmente sombrio, em que quase sempre se revela um olhar irónico e exterior sobre a natureza humana. As personagens, regra geral, são imensamente sós e confrontam-se com a pequenez da condição humana.
Com derivas pela História da Europa, sobretudo o nazismo, mas centrando-se numa contemporaneidade universal, o filme tanto nos coloca situações humorísticas relativamente simples (mas sempre subtis e elegantes), quanto nos choca com elementos desconcertantes. Por exemplo, uma das grandes personagens deste filme é um padre que marcou uma consulta no psicólogo, por perder a fé. Mostra como, de forma imaginativa, em Andersson, o real e o etéreo ocupam o mesmo lugar.
A estreia de Da Eternidade é acompanhada pelo regresso às salas da Trilogia da Vida e uma retrospetiva completa da sua obra na Cinemateca.
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Da Eternidade > De Roy Andersson, com Bengt Bergius, Anja Broms, Marie Burman, 78 min.