Um corpo de trabalho com 80 fotografias permite sondar se há algum ímpeto antológico nesta exposição, mas à VISÃO o artista descarta essa moldura para Ballad of Today, conjunto de imagens inéditas, nascidas de um desafio de Pedro Gadanho (anterior diretor do MAAT): “Não há um limite para se dizer o que se quer. Estas foram as imagens necessárias.” Mas, ao contrário da sua metodologia preferencial, um trabalho “silencioso e solitário”, espoletado pela ideia para um livro de fotografia (meio que acredita ser em que esta se vê melhor), André Cepeda partiu primeiro para Berlim para convidar o veterano Urs Stahel a fazer a curadoria deste projeto, do qual o português apenas sabia ser a cartografia de um “novo território”.
Lisboa, cidade onde vive há dois anos, revelou-se um intenso laboratório. “Sinto coisas diferentes como artista, cresci como ser humano. Há, aqui, um confronto com uma nova paisagem, e um novo pantone de cor. E há novidades na forma como fotografo as pessoas. Mas Ballad é também uma reflexão séria sobre os tempos em que vivemos.” Instado a explicar melhor, Cepeda evade-se: “Há coisas de que me é difícil falar.” Observe-se, então: um colchão fende um muro como excrescência surreal ou metáfora duma realidade urbana escondida; uma avenida infinita convida à narrativa aberta; um plano fecha-se sobre um torso de cariátide masculina – um Sísifo como tantos de nós? E há ainda duas instalações sonoras: vozes que são “um condensado de humanidade”, descreve o curador suíço.
À VISÃO, Urs Stahel descreve fios de ligação ao seminal trabalho de Nan Goldin The Ballad of Sexual Dependency: “Nos anos 1950, encontramos a subjetividade imagética de Robert Frank; nos anos 1980, temos essa subjetividade intensa de Goldin; agora encontramos o olhar existencialista de André Cepeda. Esta exposição é menos sobre conhecimento e mais sobre sentimento.” O curador acrescenta: “Estas imagens têm uma tonalidade musical. Alguém caminha, caminha, caminha pela cidade. É uma canção visual sobre a contemporaneidade.”
Ballad of Today > MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Belém, Lisboa > Tel. 21 002 8130 > 23 set-25 jan, qua-seg 11h-19h > €5