Isto não se trata só de watts ao serviço dos códigos de comunicação urbana, nem tão-pouco de engenhosos exercícios de criatividade gráfica ou de exemplares dos novos paradigmas citadinos chegados com a emergência do marketing e das gentes endinheiradas. Os néones fazem sonhar, cantarolar baixinho One From The Heart como no filme de Coppola sobre uma Las Vegas arruinada por mitos românticos. São uma viagem no tempo evocada por uns quantos traços simples, cores primárias, letras vaidosas. “Houve um senhor de idade que entrou aqui e disse: ‘A minha memória mais antiga, quando era criança e cheguei de Ourém e fui com a minha mãe ao Rossio, foi a de ver o cavalo de néon a piscar.’ Isto tem muito que ver com memórias”, sublinha a designer Rita Múrias, que, ao lado de Paulo Barata, fundou o Projeto Letreiro Galeria, que resgata letreiros e anúncios luminosos em extinção na paisagem citadina, e que conta já com 250 exemplares à espera de serem arrumados num sonhado museu, ou melhor, num “armazém expositivo” apenas emperrado pela falta de apoios. Algumas destas pepitas brilhantes podem ser (re)vistas nesta exposição.
No espaço da Stolen Books, Luzes da Cidade apresenta vinte peças, néones e caixas de luz que sinalizam a geografia do bairro de Alvalade, mas também a da Avenida Almirante Reis e das ruas da Baixa. Lojas e cabeleireiros, charcutarias e pastelarias, como, por exemplo, a da histórica pastelaria Sul América, antes arrumada entre dois liceus. “As pessoas do bairro têm imensas histórias aí passadas, e estes néones provocam reações emocionais.” Alguns néones ainda não tinham sido apresentados ao público desde o seu resgate: a figura humana da Durbel, ou o enfático Brilha Rio, que aqui brilham, acesos novamente.
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Luzes da Cidade > Stolen Books > Av. Estados Unidos da América, 105, Lisboa > T. 21 3430 408 > até 6 set, qui-dom 15h-19h > grátis