Sobre o palco, dez cadeiras, um ator, dezenas de histórias ainda por contar e um desafio: decorar o Soneto 30 de William Shakespeare até ao final do espetáculo. “Saber um poema de cor é mais do que recordar todas as palavras. É recordar o que está por trás delas”, afirma Tiago Rodrigues, diretor artístico do Teatro D. Maria II, criador e ator de By Heart, com apresentação neste sábado e domingo, dias 20 e 21. “Decorar foi um ato de resistência no tempo dos regimes ditatoriais, quando nos roubaram o acesso ao conhecimento, foi também uma forma de transmissão cultural, quando homens e mulheres analfabetos perpetuaram a tradição do Cancioneiro Português. Em última análise, saber de cor, é resistir à morte, é estabelecer ligações que atravessam o espaço e o tempo, unindo pessoas de diferentes épocas em torno da literatura e das palavras”.
É precisamente numa viagem para lá dos limites temporais e espaciais que o público embarca quando, a partir de uma história autobiográfica da vida da avó, uma mulher simples com um apetite voraz por livros, Tiago inicia a jornada que o levará de Trás-os-Montes a Moscovo, da Lisboa do século XXI à Inglaterra do século XVI. “O que partilho no palco é um labirinto emocional e poético que se constrói com histórias ligadas por um fio invisível, o da literatura, capaz de unir Pasternak, Nobel da Literatura russo, a uma cozinheira de Trás-os-Montes”. O desafio, percebe-se então, consiste em algo muito mais profundo do que decorar um poema. Passa pela entrega de cada um, enquanto indivíduo, a um coletivo de histórias, ideias e memórias que fundamentam aquilo a que chamamos Humanidade.
By Heart > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. Dom Pedro IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > 20-21 jun, sáb 20h, dom 18h > €6-€12 > mais sessões em julho, em locais a anunciar
