Afinal, a revolução está a ser transmitida, ao contrário do que cantava Gil Scott-Heron, em 1971, em The Revolution Will not Be Televised. Por exemplo, na exposição de Arthur Jafa (Tupelo, 1960), realizador de cinema, diretor de fotografia e artista visual, cujos trabalhos têm focado a experiência, a identidade e a cultura negras; ou seja, o papel dos grupos étnicos, do género e da classe social na cultura popular dominante e nos média. Usando filme, fotografia e escultura, e, por vezes, criando um processo de associação e justaposição de imagens, fixas ou em movimento, muitas originadas em factos e figuras reais, o artista efetua uma poderosa e visceral síntese da experiência da comunidade negra americana. E revela, denuncia ou empodera as formas de expressão africanas, não escondendo a violência policial, a história dos direitos civis e os ícones negros da cultura americana.
É uma obra politizada que Jafa desenvolveu nas últimas duas décadas, a par das colaborações com cineastas como Spike Lee (em Crooklyn, 1994), John Akomfrah (Seven Songs for Malcolm X, 1993) e Stanley Kubrick (Eyes Wide Shut, 1999); com músicos como Jay-Z, Beyoncé e Solange (desta, nos vídeos Don’t Touch My Hair e Cranes in the Sky, em 2016); e com artistas como Kara Walker. Em Uma Série de Prestações… ele incluiu materiais de Ming Smith, Frida Orupabo e Missylanyus, numa panorâmica coletiva que reitera esta velha narrativa contada de forma nova. Por exemplo, o autorretrato de Jafa intitula-se Monster (1998), aludindo à raiva e ao preconceito face ao outro; The Black Flag (2017) revela a bandeira da confederação (símbolo de discriminação racial nos EUA) em tecido preto; Jonathan (2017) recria um tiroteio no tribunal de 1970 e as acusações falsas a ativistas negros.
Uma Série de Prestações Absolutamente Improváveis, Porém Extraordinárias > Museu de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 21 jun, seg-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €10