Não é casual a escolha de Mark Ruffalo para o papel de Robert Bilott em Dark Waters – Verdade Envenenada. É como uma extensão da sua personagem n’O Caso Spotlight. Só que se no filme anterior o herói era um jornalista que denunciava um escandaloso caso de pedofilia na Igreja Católica, aqui é um advogado que processa uma poderosa empresa pelo envenenamento das águas com matérias químicas muito poluentes. Os dois filmes são baseados em casos reais e enaltecem a nobreza de duas profissões (jornalista e advogado) que são, por vezes, malvistas pelo cinema e pela sociedade.
Dark Waters, não sendo uma obra particularmente estimulante do ponto de vista técnico ou artístico (fica aquém de outros filmes de Todd Haynes), torna-se forte pela luta que encerra. É desenvolvido nas franjas do thriller, com um guião baseado em investigações de gabinete que encerram uma luta entre a ética e a moral e os interesses económicos – o bem contra o mal. Inevitavelmente, na parte final torna-se um filme de tribunais relativamente convencional.
Ruffalo é competente num papel a que já nos habituou. E Anne Hathaway (que faz de sua esposa), apesar de ficar sempre bem, é prejudicada pela falta de densidade do contexto familiar criado à volta da personagem. Dark Waters é um filme-denúncia, relevante pela história que conta – e que apesar de parecer distante, está terrivelmente próxima de todos nós.
Dark Waters – Verdade Envenenada > De Todd Haynes, com Anne Hathaway, Mark Ruffalo, Tim Robbins > 126 minutos