Tentar. Falhar. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor. O pensamento e o desígnio de Samuel Beckett, simplificado nestas linhas, foi seguido à letra por Francisco Ribeiro, o Ribeirinho de filmes como O Pai Tirano e O Pátio das Cantigas. Entre o final dos anos 50 e o início dos anos 70 do século XX, o ator e encenador subiu por três vezes ao palco com À Espera de Godot, do dramaturgo irlandês, contando com uma trupe de comediantes, célebres do cinema e do teatro de revista. Na segunda encenação, em 1969, dá-se a coincidência de Beckett estar a passar férias em Portugal. Estes são os factos reais sobre os quais assenta À Espera de Beckett ou Quaquaquaqua, a peça escrita e encenada por Jorge Louraço Figueira.
Numa sala de ensaios ficcionada, no centro de Lisboa, um elenco, pouco convencido com a peça original, tenta trocar alguns trechos por números (de espetáculos ou de filmes) de êxito comprovado junto do público português. Ribeirinho procura entusiasmá-lo com a visita do próprio autor a um ensaio, e essa vaga esperança alimenta um mundo de possibilidades. Respeita-se o guião ou rompe-se com ele de vez? E se, por exemplo, as personagens interpretadas por Vasco Santana ou por António Silva ressuscitassem no À Espera de Godot? Seja como for, ainda há alguma coisa a fazer. Esta é “uma reflexão sobre a vontade de não fazer nada e a obrigação de mudar”, sublinha o dramaturgo e encenador. “O espetáculo é uma viagem pelo imaginário coletivo, onde se cruzam as lembranças de personagens de teatro com os factos da História de um País”, acrescenta. Mais concretamente: do antigo regime, desde a candidatura de Humberto Delgado à presidência da República, passando pela Primavera Marcelista e terminando no desencanto político definitivo. “Uma viagem sorridente a um País angustiado” – e continuamente adiado.
À Espera de Beckett ou Quaquaquaqua > Teatro Carlos Alberto > R. das Oliveiras, 43, Porto > T. 22 340 1910 > 9-13 jan, qua-sex 21h, sáb 19h, dom 16h > €10