Não é a primeira vez que a Casa da Música olha para o continente americano. Já o fez em 2009, quando o Brasil foi o país-tema, e em 2011, quando os Estados Unidos da América ocuparam parte da programação da instituição cultural do Porto. Mas, em 2019, serão as composições musicais que atravessam todo o continente americano, do tango da Argentina ao jazz dos Estados Unidos, a ocuparem boa parte da programação. “Há uma característica partilhada pelos compositores eruditos [do Novo Mundo] que é a forma menos complexada de se apropriarem da música da esfera popular”, reconheceu António Jorge Pacheco, diretor artístico e de educação da Casa da Música, nesta quinta-feira, 8, durante a apresentação da temporada de 2019.
Um dos primeiros exemplos surge logo num dos concertos inaugurais do país-tema: Dar Novos Mundos ao Mundo (11 jan), com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música a interpretar Sinfonia do Novo Mundo, uma das obras mais conhecidas de Antonín Dvorák (compositor checo que viveu grande parte da vida em Nova Iorque), que se diz ter sido inspirada na música dos escravos que trabalhavam nas plantações de algodão. Neste primeiro concerto, estreia-se ainda o poema sinfónico Popol Vuh: A Criação do Mundo Maia, do compositor argentino Alberto Ginastera.
De 16 a 20 janeiro, altura em que a Casa da Música abre gratuitamente ao público com ensaios, concertos, visitas guiadas, instalações e cinema, a Orquestra Sinfónica interpreta, no dia 18, uma série de obras vindas do Novo Mundo. Além da estreia de Orion, do canadiano Claude Vivier, escutar-se-á Abertura Cubana, do americano George Gershwin, com instrumentos do folclore cubano como maracas e bongós, a popular Sensemayá, do mexicano Silvestre Revueltas, onde se evocam os rituais pagãos das tribos indígenas através de clavas, cabaça ou tambores, e, entre outras, a obra Amériques, de Edgard Varèse, compositor francês cuja carreira esteve ligada aos Estados Unidos da América.
“Marmelada de banana / Bananada de marmelo”
Ao longo de 2019, recordam-se obras de outros compositores do outro lado do Atlântico, como o brasileiro Heitor Villa-Lobos, os americanos Steve Reich, Aaron Copland, Leonard Bernstein, Charles Ives, John Cage, Elliot Carter e Conlon Nancarrow, e, entre outros, o argentino Mauricio Kagel. Logo em janeiro, começam dois ciclos: o novíssimo Grandes Canções Orquestrais que, durante seis concertos ao longo do ano, recupera obras onde a voz é instrumento primordial, e a Integral das Sinfonias de Tchaikovski. O Ciclo de Piano abre com o pianista português Nuno Ventura de Sousa (8 jan), e prossegue com o regresso dos ucranianos Vadym Kholodenko (17 fev) e Alexander Romanovsky (16 mar), do russo Grigory Sokolov (7 mai), presença assídua na Sala Suggia, e com a estreia da georgiana Khatia Buniatishvili (5 mai).
O serviço educativo também viaja até ao continente americano, sob diferentes perspetivas. A primeira recupera as memórias da nossa infância através do teatro-musical Pica-pau Amarelo (19 jan), com música de Gilberto Gil. No ano em que o alemão Jörg Widmann é o artista em residência (além de clarinetista, é compositor e maestro) e o húngaro Peter Eötvös o artista em associação, continuam os festivais a que a Casa da Música já nos habituou. Além do Invicta.Música.Filmes (fevereiro), dos Concertos de Páscoa e Música & Revolução (abril), dos valores emergentes da música no Rito da Primavera (maio), do Outono em Jazz (outubro) e do À Volta do Barroco (novembro), saliente-se o novo Música no Feminino (setembro) que dará a conhecer obras de 20 compositoras do século XII até ao XXI. “Uma instituição como esta não pode estar fora dos grandes temas da atualidade”, justifica António Jorge Pacheco. Os cinco agrupamentos da Casa terão solistas mulheres e serão dirigidos por maestrinas – entre elas, as portuguesas Joana Carneiro, Raquel Couto (dirige o Coro Infantil Casa da Música) e a sueca Sofi Jeannin –, além da violinista alemã Carolin Widmann. Ainda em 2019, o Coro Casa da Música chega aos 10 anos assinalando a data com a interpretação da monumental Vésperas, de Monteverdi (20 out). Um ano que promete, através da música, ultrapassar a instabilidade vivida atualmente em muitos dos países desse Novo Mundo.
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