Mariphasa é uma flor imaginária que impede os lobisomens de se metamorfosearem. No filme, significa o limbo, o que deixa as personagens em estado “quase” à beira de um abismo, ou mesmo em queda, mas sem nunca chegarem a estatelar-se no chão.
Sandro Aguilar é um realizador de culto. Fundador da produtora O Som e A Fúria, porventura a mais importante da chamada “geração curtas”, acumulou prémios para as suas curtas-metragens desde muito cedo. Manteve sempre rigor e integridade nos seus conceitos estéticos e plásticos, criando um verdadeiro cinema de autor. De tal forma que, no seu caso, não houve propriamente uma passagem para a longa–metragem – no sentido em que, mesmo depois da primeira longa, voltou ao formato mais curto, onde é particularmente feliz. A Zona, a sua estreia em longas-metragens, é um filme difuso, sobre um espaço e um tempo, com personagens deambulatórias, sem a preocupação de criar uma narrativa linear e facilmente absorvível. Em Mariphasa existe igualmente essa força da envolvência cenográfica com o trabalho estético, nos décors sombrios, no olhar preciso. Mas, ao mesmo tempo, amplia-se o campo narrativo. Há a ideia do homem-lobo que perde o rumo de si próprio após uma tragédia. Entre o luto e o arrependimento, tentamos perceber o que ainda o agarra à sua condição humana. Isto, através de um painel de emoções cromáticas, soturnas, inquietantes.
Em Mariphasa, Sandro Aguilar junta atores profissionais e não atores, mas nem por isso é um filme feito de espontaneidades. Tudo parece pensado ao milímetro. São importantes as cores, o som (e a gestão dos silêncios), bem como as interpretações de Albano Jerónimo e de Isabel Abreu, dois magníficos atores, no justo grau de contenção.
Mariphasa > De Sandro Aguilar, com António Júlio Duarte, Albano Jerónimo, Isabel Abreu, João Pedro Bénard > 86 minutos