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A maior retrospetiva de Álvaro Lapa mostra-nos vários dos seus “campésticos”, um neologismo inventado pelo artista que combina as palavras campo e doméstico, aliando o espaço doméstico à horizontalidade da paisagem
Serão cerca de 300 as obras patentes nesta grande retrospetiva dedicada a Álvaro Lapa (1939-2006), artista prolífico e enigmático, galardoado com o Grande Prémio EDP 2004. Comissariada por Miguel von Hafe Pérez, esta exposição – histórica – integra pintura, desenhos e objetos compreendidos entre 1963 e 2005, revelando trabalhos nunca antes apresentados publicamente. Aliás, recupera a produção anterior a 1968 que, refere o comissário, o artista omitiu deliberadamente nas anteriores retrospetivas dedicadas à sua obra em 1994 (Museu Calouste Gulbenkian) e em 2006 (Pavilhão Branco e Pavilhão Preto), por achar que “só a partir desse período teria encontrado a sua voz própria”.
Ou seja, Álvaro Lapa: No Tempo Todo é a “primeira exposição de caráter retrospetivo que não se concretizou sob a específica e idiossincrática tutela do próprio autor”. Von Hafe Pérez defende: “Numa perspetiva histórica e estética percebe-se, no entanto, que muitos dos seus trabalhos anteriores a essa data – e que agora se apresentam com plena consciência do risco curatorial subjacente – remetem para aspetos absolutamente vitais da sua produção ulterior, como sejam a presença da mesa enquanto leitmotiv estrutural e o efeito libertador do informalismo inicial relativamente a códigos de representação convencionais.”
Convencional é um termo distante da prática do artista que infundiu a obra com a sua formação filosófica, referências aos autores de eleição (Milarepa, Kafka, Freud, Lowry, Mallarmé…), as amizades (com Palolo, Joaquim Bravo, António Areal, João Cutileiro, Ângelo de Sousa…), a predileção pelos materiais pobres (plátex, papéis vários) e uma resoluta liberdade que o desarruma nas prateleiras da História da Arte. A olho nu, o observador encontra enigmas, linhas sombreadas, frases inscritas nas pinturas, cadernos-pintura, colagens, assemblages. Retratos e paisagens dominam, define o curador. E conclui: “A pintura de Álvaro Lapa é a expressão de um oximoro viabilizado: a imagem dita e a palavra vista.”
A exposição Álvaro Lapa: No Tempo Todo é o pretexto para um ciclo de artes performativas, teatro, cinema e pensamento que decorre no Museu de Serralves até maio.
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Obra “Caderno de Homero” incluída na série que o artista dedicou a 19 escritores
Álvaro Lapa: No Tempo Todo > Museu de Arte Contemporânea de Serralves > Rua D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > 9 fev-13 mai, seg-sex 10h-19h, sáb-dom 10h-20h > €10