Il me manque le repos, la douce insouciance qui fait de la vie un mirroir où tous les objets se peignent un instant, et sur lequel tout glisse.” Traduzido, fica mais ou menos assim: “Falta-me o sossego, a doce negligência que faz da vida um espelho onde todos os objetos se penteiam durante um instante e sobre o qual tudo desliza”. Este excerto da peça de teatro Les Caprices de Marianne, do francês Alfred de Musset, representa no seu esplendor o Romantismo, a exacerbação dos sentimentos trazida para as diversas esferas da arte – da literatura à pintura.
A exposição A Sedução da Modernidade centra-se no Naturalismo, precisamente uma refutação das premissas do Romantismo, que em Portugal encontra a sua expressão máxima no Grupo do Leão, um grupo de pintores, escritores, jornalistas e atores reunidos em tertúlias na Cervejaria Leão d’Ouro, junto à Estação do Rossio, em Lisboa. “Isso é muito importante nessa geração: contestar o academismo”, conta a curadora Maria de Aires Silveira.
Balizada entre 1850 e a viragem do século XIX para o XX, a exposição começa com esculturas de Vítor Bastos, sobre Camões, na Sala dos Fornos. “Estou no museu há 26 anos e estas esculturas nunca tinham sido expostas…”, revela Maria de Aires Silveira. Em exibição estão, ainda, obras de António da Silva Porto, João Marques de Oliveira e António Soares dos Reis. “Eles iam para junto das paisagens tirar apontamentos e terminavam as obras no ateliê. Interessava-lhes captar as sensações ligadas às condições climatéricas, aos crepúsculos.”
Depois, passamos para a parte da geração dita “romântica”, onde encontramos um quadro de Francisco Métrass com um nu: “O nu não tinha tradição em Portugal a não ser na pintura mitológica. Aqui, aparece de forma natural, numa paisagem, a mulher em cima de uma pele de leopardo”, conta a curadora. “A ligação à literatura é feita através de referências literárias de autores como Camilo Castelo Branco e Antero de Quental. É uma exposição que se lê como um livro aberto.”
Há ainda uma parte dedicada a Columbano Bordalo Pinheiro, nomeadamente com a exibição da obra Um Concerto dos Amadores (1882), que não era exposta há alguns anos. E termina com obras de António Carneiro (1872-1930), uma introdução, uma antecipação, ao que aí vem: o Modernismo.
A Sedução da Modernidade > Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado > R. Serpa Pinto, 4, Lisboa > T. 21 343 2148 > 27 abr-15 abr 2018 > ter-dom 10h-18h