No sótão de uma casa, no Portugal dos anos 50, três jovens amigos (interpretados por Catarina Gomes, Sara Barros Leitão e Paulo Mota) têm uma longa conversa sobre arte e política. A questão central, a mais arrebatadora, é saber qual a melhor maneira de ultrapassar os ditames do regime fascista e construir um país novo. “Não é um espetáculo que procure fazer ajustes de contas com a História, mas pensar o que poderia ter sido este país utópico”, sublinha Gonçalo Amorim, a quem coube a encenação e a dramaturgia de O Grande Tratado de Encenação, escrita em conjunto com Rui Pina Coelho, um colaborador habitual do Teatro Experimental do Porto (TEP). Alimenta-se, isso sim, dessa força transformadora, física e mental, característica da juventude, com que se julgam capazes de mover montanhas.
Este é o primeiro espetáculo de uma trilogia dedicada à juventude e à história recente de Portugal (o segundo, correspondente à década de 70, intitula-se A Tecedeira que Lia Zola e estreia em outubro no Rivoli, e o terceiro, sobre os anos 90, chama-se Maioria Absoluta e está previsto para 2018). Parte de uma obra basilar para o teatro português, Pequeno Tratado da Encenação, escrito em 1962, por António Pedro (um dos fundadores do TEP), que ali faz a defesa da encenação como um discurso organizador do espetáculo e como um dispositivo revelador de uma visão única e autoral. Com aquele manual, elucidava o prefácio, pretendia-se “em primeiro lugar, explicar (senão justificar) a atividade autêntica do encenador como ‘realizador de teatro’ que efetivamente é. Em segundo lugar, explicar em que consiste esse ofício, de que instrumentos dispõe para ele, e como poderá deles servir-se para o fazer”.
Um projeto de teatro e, no fundo, de País, discutido exaustivamente entre os três jovens em cena, aproveitando a energia (e a inconsciência) dos verdes anos.
O Grande Tratado de Encenação > Teatro Municipal Constantino Nery > Av. Serpa Pinto, Matosinhos > T. 22 939 2320 > 20-23 abr, qui-sáb 21h30, dom 16h > €7,50