
Uma semana antes e a galeria Cristina Guerra não sabia que obras do norte-americano Robert Barry iriam estar expostas no espaço da Rua Santo António à Estrela, em Lisboa. Não tinha imagens disponíveis – o artista é o curador da sua exposição – e o próprio só estaria disponível para entrevistas no início da semana de inauguração.
O trabalho de Robert Barry, um dos nomes fundadores da Arte Conceptual, na década de 60, assenta na desconstrução destas fronteiras: o que é uma exposição? O que é um espaço expositivo? O que é uma obra de arte? Em 1969, Barry produziu Measured Volume to Indefinite Expansion, em que um poster a branco, com a indicação a letras pequenas de uma caixa postal e um número de telefone que tinha associado um atendedor automático a fazer um descritivo da obra, remetia para um happening: a libertação de gás inodoro e incolor de cinco botijas a partir de vários pontos nos arredores de Los Angeles. O que é a arte? A arte é relação, é o espaço entre. É o que suscita pensamento e alargamento de ideias através do poder da sugestão.
Um dos conceitos mais emblemáticos defendidos por Barry é o de que o nada é a coisa mais potente que existe no universo e é nesse sentido que explora os limites da materialidade e da finitude no seu trabalho. Em galeria, Barry socorre-se muito do uso da palavra escrita como linguagem e as peças expostas, que podem ser palavras-objeto dispostas no chão, palavras-autocolante fixadas na montra ou palavras-desenho colocadas na parede (como é o caso do que poderemos ver agora em Lisboa), questionam a sua condição de obras de arte e colocam-se no papel de condutoras – condutoras para a verdadeira experiência artística: a de ver o que não pode ser visto, a de ir para diversos lugares sem sair do mesmo sítio.
Galeria Cristina Guerra > R. Santo António à Estrela, 33, Lisboa > T. 21 395 9559 > 16 mar-14 abr, ter-sex 12h-20h, sáb 15h-20h