Está transformado em atelier de arquiteto, o Pavilhão Preto do Museu da Lisboa – Palácio Pimenta. Nada de vitrinas convencionais, portanto, para mostrar desenhos, fotografias, projetos de urbanismo e arquitetura que propunham mudar a cidade, mas não chegaram a sair do papel. A exceção vai para a maqueta de 1922 do tão sonhado e desejado Parque da Liberdade, pertença do museu e restaurada para a exposição A Lisboa que Teria Sido, que abre ao público esta sexta-feira, 27.
O Parque da Liberdade (atual Parque Eduardo VII) é um dos núcleos em destaque, não só pela curiosa maqueta em gesso, madeira e cartão. Mas porque esta ideia de construir um grande parque urbano há de prolongar-se no tempo, com mil e uma propostas”, justifica António Miranda, comissário da exposição. O primeiro projeto é de H. Lusseau, vencedor do concurso internacional de 1887. “Implicava um investimento tremendo e, ainda que tenha sido reformulado, foi sendo sucessivamente adiado”. Uma dessas soluções passava por lotear a envolvente com moradias, à imagem do Parque Monceau, mas uma burguesia endinheirada era coisa que não abundava e Lisboa não era Paris. Em 1912, também Ventura Terra se inspiraria na capital francesa, ao propor, para o topo do parque, um Pavilhão de Exposições que é uma cópia do Petit Palais.
“Tornar Lisboa monumental era um desígnio”, diz o comissário. “À exceção da Praça do Comércio, a arquitetura pombalina era então – e até muito recentemente –, considerada soturna, aborrecida, para usar alguns dos epítetos da época, e pouco digna de uma capital”. Francisco de Holanda é o primeiro a levantar a questão, ainda no século XVI, num documento enviado a D. Sebastião, onde fala já da necessidade de trazer as águas para a cidade que jorrariam em fontes-monumentos em forma de elefantes, ali no Rossio e no Terreiro do Paço.
Além do chamado eixo central, a exposição foca outros pontos da cidade como o Martim Moniz, para falar do (sempre latente) problema do escoamento do trânsito – com propostas a esventrar as colinas com túneis – e ainda a (deficitária) ligação da Baixa à frente ribeirinha. Outro destaque é o projeto VALIS, do início de 1990, que pretendia valorizar as portas de Lisboa pois, à exceção da Ponte 25 de Abril, em que a cidade se abre a quem chega, todas as entradas se faziam pelas “traseiras”.
Para chegar aos cerca de 200 documentos expostos, em grande parte do espólio do museu, contribuíram a Câmara Municipal, a Fundação Calouste Gulbenkian, entre outros arquivos municipais. Do atelier do arquiteto Manuel Graça Dias veio a maqueta da Manhattan de Cacilhas, e ainda um filme em 3D, pois importa também perceber a ligação de Lisboa à outra margem. “Tivéssemos nós capacidade financeira e logo no século XVIII tinha-se começado a deitar abaixo Lisboa”, nota António Miranda. Imaginar como seria a cidade é, pois, o exercício que se convida a fazer. Mas sem juízos de valor.
Para a exposição foi encomendado um levantamento fotográfico de Lisboa onde estão assinalados alguns projetos mais recentes, como as Torres do arquiteto Siza Vieira que, em 2003, propôs, para os terrenos da antiga fábrica Sidul, em Alcântara, a construção de três edifícios com 105 metros de altura, a ultrapassar o tabuleiro da Ponte 25 de Abril.
A Lisboa Que Teria Sido > Museu de Lisboa – Palácio Pimenta > Campo Grande, 245, Lisboa > T. 21 751 3200 > 27 jan-25 jun, ter-dom 10h-18h (última entrada às 17h30) > €3 (inclui entrada em todos os espaços do museu)