Um século depois, o Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), no Porto, recria aquela que foi a única exposição individual de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918): uma mostra de 114 obras no Jardim Passos Manuel (antigo salão de festas, atual Cinema Passos Manuel), em 1916, organizada, promovida e comissariada pelo pintor. Num catálogo da época, onde apenas constavam os títulos das obras, as curadoras Marta Soares e Raquel Henriques da Silva identificaram 91 desenhos e pinturas. Em Amadeo de Souza-Cardoso 2016-1916, reúnem-se agora 81 quadros de um período “muito produtivo, diversificado e com trabalhos notáveis”, descreve Marta Soares, fruto de uma longa estadia do pintor em Manhufe, a freguesia do concelho de Amarante onde nasceu. Entre eles, estão Par Impar, Mucha e Vida dos Instrumentos.
Sem conhecerem a montagem original, Marta Soares e Raquel Henriques da Silva optaram por evocar, à entrada, o cinematógrafo, o jardim e a esplanada do antigo salão de festas, para “fazer a ponte” entre a sala de exposições temporárias do MNSR e a mostra de 1916 totalmente concebida por Amadeo. “É a leitura que o pintor faz da sua obra” que aqui veremos, nota Marta Soares. A conceção desta mostra (1908 a 1916) permite compreender como “o artista relacionou, agrupou e lançou novos olhares sobre o seu trabalho”. Uma obra “muito díspar e singular que não cabe num só movimento”, diz a curadora, lembrando que Amadeo se apropriou do cubismo, sem deixar de lado “as nuances do passado e o fascínio por temas medievais”. Não se trata de uma retrospetiva, sublinha. Esta exposição é, isso sim, “uma tentativa de criar um discurso coerente com aquilo que Amadeo fez”, define Marta Soares.
A exposição fica no Porto até ao último dia do ano, depois segue para o Museu do Chiado, em Lisboa, onde pode ser vista até 26 de fevereiro.
Amadeo de Souza-Cardoso 2016-1916 > Museu Nacional Soares dos Reis > R. D. Manuel II, Porto > T. 22 339 3770 > 1 nov-31 dez, ter-dom 10h-18h > €5