Na luta pela sobrevivência, quantos vão sendo remetidos para as margens? Joana Providência assistiu, de muito perto, a esses passos em falso. De um momento para o outro, perde-se o emprego, o dinheiro escasseia, a casa fica em risco. “Às vezes é um processo muito rápido e as pessoas veem-se numa espécie de quase ausência, sem perceber como chegaram àquela situação”, diz a criadora de Inquietações, que quis levar para o palco do Teatro Municipal Rivoli o tema dos sem-abrigo. “É importante dar visibilidade a quem não tem visibilidade”, acredita a coreógrafa.
Uma realidade dura que, nesta coprodução do Teatro Municipal Rivoli com a ACE Teatro do Bolhão, é encarada sem paliativos. “Todos os dias nos cruzamos com sem-abrigo, mas parece que são mundos paralelos e não se encontram. Temos de perceber que podíamos ser nós naquele lugar”, sublinha Joana Providência. É numa cidade escura, com blocos de paredes instáveis sem portas nem janelas (a cenografia foi desenhada por Cristóvão Neto) que se movem os bailarinos e cocriadores Alfredo Bertino, Chiara Zompa, Daniela Cruz, Joana Castro, João Vladimiro e Paulo Mota. Corpos desagregados, cuja única preocupação parece ser a sobrevivência. Os intérpretes materializam sensações como a angústia, o medo, a solidão, o desespero. Sabendo que o resgate da dignidade daqueles que representam também depende do nosso olhar.
Inquietações > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2201 > 28-29 out, sex 21h30, sáb 19h > €7,50