Sim, o mundo é redondo, não restam dúvidas – muito menos quando o Festival Alkantara nos mostra o que se faz por ele fora nas artes performativas. Poderá um artista no Japão querer chegar ao mesmo sítio que outro em Marrocos, no Congo, em França ou em Portugal? E poderá isso ser exatamente o oposto da globalização? Thomas Walgrave, diretor do Alkantara, acredita que sim, olhando para os 25 projetos que escolheu para esta 14ª edição do festival. “Estes artistas têm a capacidade e a sensibilidade para perceber o que está a acontecer à volta deles e, muitas vezes, percebem-no antes dos temas aparecerem nas notícias e de outros o fazerem”, afirma. “É muito interessante ver como os artistas contemporâneos procuram renegociar as relações com o passado e a tradição, mesmo tendo várias formas de o fazer e diferentes motivações”, acrescenta, convicto de que “o olhar que lançam ao passado não é nostálgico, mas sempre crítico, delicado e incisivo, e muitas vezes repleto de humor sério”.
Pelos palcos do Alkantara vão passar, entre 26 de maio e 11 de junho, espetáculos do congolês Faustin Linyekula (Artista na Cidade), dos marroquinos Taoufiq Izeddiou e Radouan Mriziga, do japonês Takao Kawaguchi, do israelita Arkadi Zaides e de vários outros artistas que, olhando para trás, tentam perceber o presente, e olhando o local se esforçam por compreender o universal. Conservar para progredir, sublinha Walgrave. Numa edição em que a criação portuguesa ocupa cerca de um terço do programa, haverá uma nova coreografia de João dos Santos Martins e Cyriaque Villemaux, performances em torno da palavra de Sofia Dias e Vítor Roriz, e as estreias de Cláudia Dias e de Gonçalo Waddington.
Espalhado por quase uma dezena de lugares em Lisboa, o Alkantara tem, este ano, ainda mais um poiso: o Teatro Estúdio Mário Viegas servirá de ponto de encontro, com uma programação paralela, com conversas, performances, lançamentos, festas e djs sets. Será aí que acontecerá Zona/Sub/Central, uma série de concertos, nas noites de quinta-feira, com músicos das periferias de Lisboa. “É importante que o Festival Alkantara seja um espaço de diálogo, um lugar onde as pessoas se encontram. E é tão simples como isso”, conclui Thomas Walgrave.
Festival Alkantara > Espaço Alkantara, Centro Cultural de Belém, Cinema São Jorge, Culturgest, Teatro Municipal Maria Matos, Teatro Municipal São Luiz, Teatro Nacional D. Maria II e Jardim do Torel > Lisboa > T. 21 397 83 04 > 25 mai-11 jun > €5 a €54 (9 espetáculos)