
O Porto Best Of começa com a revisitação do álbum Psicopátria, dos GNR
Rui Duarte Silva
Pedro “Lobo” Bessa descobriu a música dos GNR há 30 anos, precisamente por altura do lançamento de Psicopátria, o álbum que definiria a futura identidade sonora do grupo, marcadamente mais pop. A admiração pela banda do Porto é tanta que assumiu o compromisso de, a cada álbum do projeto LOBO (que lidera), dar sempre uma nova roupagem a uma das músicas dos GNR. Fê-lo em 2009, com o tema Pós Modernos (que Rui Reininho considerou melhor do que o original), incluído em Socorros a Náufragos, e também com Homens Temporariamente Sós, integrado em Reverberação, lançado em 2015. “São excelentes canções e prestam-se a reinterpretações, principalmente se tivermos em conta as condições de produção que existiam nos anos 80”, diz Pedro. Esta quarta-feira, 9, a música produzida nessa década pelos GNR será revisitada no palco do Rivoli, quando a banda tocar de fio a pavio o disco Psicopátria. E Pedro Bessa e os seus LOBO estarão lá a partilhar o palco, pela primeira vez, com os seus ídolos. Serão os primeiros concertos do Porto Best Of, um ciclo de música concebido por Miguel Guedes.
Tudo começou com uma conversa entre o vocalista dos Blind Zero, Paulo Cunha e Silva, o antigo vereador da Cultura do Porto, e Tiago Guedes, diretor artístico do Teatro Municipal do Porto, que tentavam perceber como é que a sala de espetáculos, cuja programação tem sido sobretudo marcada pelas artes performativas, se podia abrir ao melhor do que se faz na cidade a nível musical. “Pensámos que poderíamos prestar tributo a bandas do Porto que fazem parte da história da música portuguesa, pedindo-lhes para recriar, na íntegra, um álbum icónico do seu percurso”, conta Miguel Guedes, “e também queríamos que os concertos incluíssem bandas novas que têm muito a mostrar”.
O Porto Best Of abre, assim, com chave de ouro, aproveitando a “coincidência feliz” dos 30 anos de Psicopátria. Músicas como Efectivamente, Bellevue, Dá Fundo, Choque Frontal e Pós Modernos serão revistas à luz do tempo presente. “Continua a dar-nos muito prazer tocar estas músicas”, refere Rui Reininho. “Se assumíssemos isto como uma mera encomenda, seria um sacrifício, mas não, o lado kamikaze, de um certo improviso, mantém-se na banda e conseguimos introduzir algumas mudanças”, acrescenta. Além disso, garante Reininho, a banda não deixa de encarar com humor os “erros e imperfeições” que agora detetam nas gravações.

O músico Pedro Bessa, a cara do projeto LOBO
O lado B deste primeiro dia de Porto Best Of será constituído pelo concerto dos LOBO, que incluirá, obviamente, as novas versões das músicas dos GNR. “Dá-nos prazer ouvi-las, estão muito bem tocadas e confrontamo-nos com um lado naïf da nossa composição”, comenta Rui Reininho. A experiência de estar em palco com os GNR será, para Pedro Bessa, certamente memorável. E formula um desejo: “Gostava que, com este conceito, o público se lembrasse como é bom ouvir música original ao vivo, pois é cada vez mais difícil encontrar locais para tocar.”
Até ao final do ano, haverá mais três concertos deste Porto Best Of, com muitas surpresas. “Não queremos que o ciclo se feche à volta do pop-rock, há muitas comunidades musicais por explorar”, assegura Miguel Guedes. Mas, afinal, o que é isto do nervo musical do Porto? O vocalista dos Blind Zero responde: “Está ligado às idiossincrasias da cidade, não tenho dúvidas que as bandas são muito devedoras do lugar onde vivem.”
Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2201 > 9 mar, qua 21h30 > €7,5