
O ator que mais brilha, num filme com um elenco de luxo, é George Clooney, que faz de centurião
Em Salve, César, dos irmãos Coen, mais do que homenagear a época de ouro dos anos 50, Hollywood celebra-se a si própria, com um elenco de luxo, numa hilariante comédia, cheia de inteligência a autoironia. É também por isso um dos mais esperados filmes de 2015, com êxito assegurado dentro da própria indústria.
Salve, César insere-se numa linhagem de filmes em que Hollywood, de forma perspicaz e bem-humorada, se olha ao espelho. Em Serenata a Chuva (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen, o mais feliz dos casos, é abordada a passagem do mudo para o sonoro e a dificuldade que a indústria teve em se adaptar à tecnologia (mais recentemente, O Artista, filme de 2012, da autoria de Michel Hazanavicius, recupera o tema). Em O Jogador (1992), Robert Altman reflete sobre a promiscuidade do meio, exibindo como a indústria de cinema funciona distante da arte criativa, numa época mais próxima da contemporânea. Os irmãos Coen já tinham feito um filme sobre o cinema, na perspetiva do argumentista (Barton Fink, 1991), aqui, em Salve, César, escolhem abordar a época das grandes produções, com cenários magníficos, e centenas de figurantes, nas vésperas do aparecimento e popularização da televisão. E mostram esta Hollywood resplandecente, mas seguindo a perspetiva suja de um grande diretor de estúdios, que se afigura a um gangster. É assim que Eddie Mannix é caracterizado, logo desde o início, quando o vemos sair de um carro, de madrugada, para esbofetear uma atriz que está a fazer uma sessão fotográfica privada, à revelia do estúdio. Eddie Mannix, numa interpretação fabulosa de Josh Brolin, é o epicentro do filme. Tudo roda à sua volta e tudo é controlado por si. Desde as questões elementares do funcionamento do estúdio à imagem pública dos atores (o que o obriga a imiscuir-se e definir aspetos relacionados com a sua vida íntima). E, apesar de a grande produção em curso ser uma biografia de Jesus Cristo na perspetiva de um legionário romano, a rotina de Mannix é tirada de um filme de ação, sempre sem mãos a medir, que tanto envolve trabalho no escritório como no terreno. Os irmãos Coen fazem um retrato amplo daquele universo, abrangendo o máximo de elementos possível. Daí o imenso elenco, que torna o filme rico e complexo. Sempre com interpretações de alto nível. Como as irmãs jornalistas num duplo papel de Tilda Swinton, o ator de westerns adaptado a um filme romântico (Alden Ehrenreich), o paciente e snob realizador de musicais (Ralph Fiennes), a intempestiva atriz (Scarlett Johansson) ou o líder da sociedade secreta de argumentistas comunistas (Max Baker). Mas a estrela que mais brilha é George Clooney, o ator que faz de centurião, num pouco habitual registo de comédia (já tinha feito comédia com os Coen), demonstrando que é um ator completo e versátil.
De Joel e Ethan Coen, com George Clooney, Josh Brolin, Ralph Fiennes, Scarlett Johansson, Tilda Swinton, Channing Tatu > 106 min