“A virtude é uma doença infecciosa”, há de dizer Merteuil a Valmont. Num “salão antes da Revolução Francesa”, como o descreveu Heiner Müller quando escreveu este Quarteto, encontrar-se-ão os dois antigos amantes. São eles as personagens desta peça baseada no romance As Ligações Perigosas, de Laclos. No palco do Teatro da Politécnica, vão ser Crista Alfaiate e Ivo Canelas, numa interpretação que Jorge Silva Melo lhes pediu que fosse “simples”, dando uso a todo o corpo e deixando-nos em suspenso nos seus monólogos cruzados (mais do que diálogos), sem atropelarem a nossa interpretação. “O que considero inquietante nesta peça é que não entendemos bem o que se passa mas, de vez em quando, aquelas frases ferem-nos”, diz o encenador, que já subiu ao palco ao lado de Glicínia Quartin com este texto e conheceu de perto Heiner Müller, “um amigo”. Em jogos de conspiração e sedução, de sexo e de traição, Merteuil e Valmont hão de trocar de personagens e desdobrar-se noutras ainda. Ali, nota Silva Melo, estarão seis personagens e não apenas duas. “É um adeus à masculinidade e à libertinagem. Gosto deste lado destruidor de Heiner Müller. Ele tinha uns olhos que pareciam lâminas e este texto tem esse lado afiado na relação entre sexo, fidelidade e morte. Há uma humanidade chocante em Müller que me toca”, afirma. À direita, no palco, apenas uma sombra indefinida – aquilo a que o dramaturgo chamou “um bunker depois da Terceira Guerra Mundial”.
Quarteto > Teatro da Politécnica > R. da Escola Politécnica, 54, Lisboa > T. 96 196 0281 > 6 jan-13 fev, ter-qua 19h, qui-sex 21h, sáb 16h e 21h > €6, €10