Se conhece os móveis Olaio então já se cruzou com o génio criativo de José Espinho. Este alentejano, nascido em Beringel (1915-1973), uma pequena terra do concelho de Beja, foi consultor de Estética Industrial desta empresa de mobiliário durante mais de vinte anos, entre 1950 e 1970, e um dos pioneiros do design português. A história da vida e obra de José Espinho, que a filha Maria José Galamba descreve como tendo sido um homem com “uma visão admirável e modernidade extraordinária para a época”, pode ser vista a partir desta sexta-feira, 11, no terceiro piso do MUDE – Museu do Design e da Moda, em Lisboa. É a primeira grande exposição sobre o artista multifacetado cujo trabalho muitos ainda desconhecem.
José Espinho. Vida e obra tem a curadoria da historiadora de design Graça Pedroso, que já em 2013 comissariou José Espinho: a diversidade do fazer, na Galeria Bessa Pereira, em Lisboa. Esta é uma das exposições centrais da programação do MUDE em 2015. Bárbara Coutinho, diretora do museu, revela ainda que a par desta mostra, patente até abril de 2016, será editado um livro, nos primeiros meses do próximo ano.
Composta por 90 peças de mobiliário, expostas por ordem cronológica e divididas por três momentos (neo-rústico, moderno e estética industrial), objetos pessoais e documentação, José Espinho. Vida e obra revela-nos pormenores da vida e do percurso profissional de um apreciador de fotografia com jeito para a pintura, que nos tempos mais frios aquecia a cama com um objeto “alimentado a brasas”, também presente na exposição. O protagonismo vai inteiramente para as suas obras que nos dão a conhecer a diversidade e excelência do designer. Vê-se cada peça, individualmente, analisam-se as linhas, materiais e forma, e a evolução do gosto. Quase como um exercício de memória, somos desafiados a lembrar o desaparecido cinema Monumental ou o Grande Hotel da Figueira da Foz (agora remodelado). Estão lá os estiradores e cadeiras que muitos se lembram de ver nas salas de educação visual, os beliches da Olaio e as cadeiras onde ainda nos sentamos na Solmar.
Sozinho ou em conjunto, com muitos dos seus colegas que depressa se transformavam em amigos (caso de Daciano Costa e António Garcia), José Espinho desenvolveu, entre os anos 40 e 70, a arquitetura de interiores da cervejaria Solmar, do hotel Ritz, do desaparecido Estoril-Sol e do modernizado hotel Florida. Das peças de mobiliário expostas, apenas três fazem parte do espólio do MUDE, todas as outras foram emprestadas por particulares, que ainda as têm a uso, ou por empresas e instituições. “Reunimos o que foi possível”, diz a curadora. “Ao longo do tempo muitas coisas desapareceram. As pessoas desfaziam-se do mobiliário sem perceber a importância que tinha”, acrescenta. Com esta exposição – que integra o trabalho de divulgação, investigação e musealização do design português que tem vindo a ser feito pelo MUDE – dá-se a conhecer uma figura que tem passado um pouco à margem do que foi e é o design em português.
José Espinho. Vida e obra > MUDE – Museu do Design e da Moda, Coleção Francisco Capelo > R. Augusta, 24, Lisboa > T. 21 888 6117 > 11 dez-17 abr, ter-dom 10h-18h