Entre a azáfama ribeirinha do Porto de Douro, Faina Fluvial (1931) ao Velho do Restelo (2014), um dos últimos filmes do realizador Manoel de Oliveira, passaram 83 anos. O mundo e o cinema mudaram, o País alcançou a liberdade. Daí que o ciclo de cinema Grande Plano, que – entre esta terça, 10, até 12 de dezembro – mostra no Porto (e pela primeira vez) toda a obra do mestre, seja sobretudo “uma obra da democracia”. António Preto, o consultor de programação e um estudioso da obra de Oliveira, avisa mesmo que assistir a este ciclo de cinema “é uma responsabilidade dos espetadores e dos decisores políticos”. A retrospetiva, organizada pela Câmara Municipal do Porto, em conjunto com outros parceiros, é uma forma de “reativar a obra de Oliveira no presente”.
O ciclo de 38 sessões, exibidas de forma cronológica no Auditório de Serralves, teatros municipais Rivoli e Campo Alegre e cinema Passos Manuel, “permite perceber contradições, diálogos, mudanças de rumo daquilo que foi a produção de Manoel de Oliveira”. São 83 anos de filmes. Desde a década de 30, quando o cineasta começou a filmar, atravessando a época “em que foi silenciado pelo regime politico” e retomando a realização no pós-25 de Abril. Do mítico Aniki Bóbó (1942), Acto da Primavera (1963), O Passado e o Presente (1972) – considerado “um ponto de viragem na obra de Oliveira” – a Amor de Perdição (1978), Non ou a Vã Glória de Mandar (1990), A Divina Comédia (1991), Vale Abraão (1993), Viagem ao Princípio do Mundo (1997), Porto da Minha Infância (2001), O Princípio da Incerteza (2002), Singularidades de Uma Rapariga Loura (2009), O Estranho Caso de Angélica (2010) e O Gebo e a Sombra (2012). “É uma obra da democracia mas estabelece um forte diálogo com o passado para o colocar em confronto com presente”, lembra António Preto.
Manoel de Oliveira deixou-nos uma obra “eminentemente política” que nos revela a sua “dimensão e alcance a nível estético, histórico, politico, crítico”. “Faz a travessia de toda a história do cinema. Esta longevidade permitiu-lhe construir um ponto de vista único em relação ao mundo e ao cinema”, lembra o professor a ensaísta alertando, contudo, para “a necessidade de restaurar a obra de Oliveira” já que a maioria “se encontra ainda nos formatos originais de película”. “É preciso tomar medidas”, avisa, correndo o risco de a obra se tornar inacessível caso não seja atualizada para o formato digital. Nas vésperas em que se assinala o nascimento do cineasta, a 10 de dezembro, o ciclo inclui uma mesa-redonda sobre Manoel de Oliveira no Teatro Municipal Rivoli.
As primeiras sessões do ciclo Grande Plano
Douro, Faina Fluvial, Hulha Branca, Já se Fabricam Automóveis em Portugal e Famalicão > Auditório Museu de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > 10 nov, ter 22h > €3
Aniki-Bóbó > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 3392200 > 11 nov, qua 22h > €3
O Pintor e a Cidade e O Pão > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 12 nov, qui 22h > €3
Acto da Primavera > Cinema Passos Manuel, R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 205 8351 > 13 nov, sex 22h > €3
A Caça, Vilaverdinho e As Pinturas do Meu Irmão Júlio > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 14 nov, sáb 17h30 > €3
O Passado e o Presente > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 14 nov, sáb 18h30 > €3
Benilde ou a Virgem-Mãe > Teatro Municipal Rivoli > Pç. D. João I, Porto > T. 22 339 2200 > 14 nov, sáb 22h > €3