1. Beatles’ 64 Disney+
Tinham passado menos de três meses desde o assassínio do Presidente John F. Kennedy, em novembro de 1963, quando os Beatles voaram de Inglaterra para os Estados Unidos da América. Era a primeira vez que o quarteto de Liverpool se apresentava em solo americano, numa espécie de consagração, agora sim, mundial.
Os fãs, as adolescentes e jovens mulheres, sobretudo, entraram em êxtase com a atuação de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr no The Ed Sullivan Show, visto por mais de 73 milhões de telespectadores.
O documentário Beatles ’64, produzido por Martin Scorsese, com realização de David Tedeschi, conta a história mais íntima desse momento, em fevereiro de 1964, através de imagens raras dos bastidores filmadas pelos documentaristas David e Albert Maysles, restauradas em 4K, e por entrevistas recentes de diversos intervenientes da cena musical da época, incluindo Paul e Ringo.
2. The Beatles: Let It Be Disney+
Durante anos, o filme Let it Be (estreado em maio de 1970, quando por todo o lado se falava da já confirmada separação dos Beatles) foi olhado como sinal do triste fim de uma das bandas mais apaixonantes do mundo. As gravações originais dariam origem a Get Back, documentário em três partes de Peter Jackson (lançado em novembro de 2021, na Disney+), que queria, de alguma forma, alterar essa narrativa. Este ano, o filme original, feito por Michael Lindsay-Hogg, ficou também disponível na mesma plataforma de streaming, numa versão restaurada. Em janeiro de 1969, Paul, John, George e Ringo tinham-se juntado como nos velhos tempos, com vista a fazer um novo álbum. Lindsay-Hogg filmou a banda durante 22 dias, nos estúdios cinematográficos Twickenham, nos subúrbios londrinos, e na sala de gravações da Apple, em Londres. A atuação no terraço do edifício da Savile Row, no dia 30 de janeiro de 1969, apanhando todos de surpresa, seria a última da história dos Beatles. I.B.
3. A Música de John Williams Disney+
De quantos compositores se ouve apenas o começo de uma música e de imediato sabemos de que filme se trata? De pouquíssimos, mas de John Williams seguramente. Tubarão, Super-Homem, Indiana Jones, Star Wars, E.T. ‒ O Extraterreste, Parque Jurássico, só para mencionar os mais trauteáveis da história recente do cinema.
Experimente-se ver o Tubarão sem o trecho de duas simples notas. Não tem o mesmo impacto no espectador. Para John Williams é uma aventura náutica, um filme de piratas que dá um nó no estômago. Em Star Wars, George Lucas queria que cada personagem tivesse o seu próprio tema e considera que “o som é metade do filme”. Curioso que a abertura, a marcha com metais, foi a última coisa que Williams escreveu durante o processo. Foi depois do sucesso de Star Wars que o compositor começou a ser regente convidado à frente das maiores orquestras do mundo. Algo que o pianista de jazz, nascido em Nova Iorque numa família ligada à música, nunca almejou.
4. Ryuichi Sakamoto: Opus TVCine+
A fragilidade humana é proporcional ao portento artístico. Ao longo de uma hora e 40 minutos nunca nos desligamos do som da música em detrimento da imagem. No drama e no recato do preto-e-branco, sem público a assistir, há luz, há sombras, há reflexos, há movimentos, há um homem, as suas mãos e o piano, no registo mais íntimo de músico e instrumento.
Ryuichi Sakamoto: Opus é um verdadeiro best of do legado do compositor japonês que morreu em março de 2023, aos 71 anos, na sequência de um cancro, precisamente um ano antes da estreia do filme nos cinemas. Foram sete dias de gravações, em setembro de 2022, no estúdio 509 do edifício em Tóquio da NHK, rádio pública japonesa.
São 20 temas, tocados em duas a três peças por sessão, sem faltarem temas de bandas sonoras de filmes como Feliz Natal, Mr. Lawrence (1983), de Nagisa Oshima, O Último Imperador (1987) e Um Chá no Deserto (1990), ambos de Bernardo Bertolucci, e O Monte dos Vendavais (1992), de Peter Kosminsky.
Atrás da câmara estava Neo Sora, 33 anos, realizador e filho de Ryuichi Sakamoto, com a sua última companheira, Norika Sora, também sua agente. Com Bill Kirstein, diretor de fotografia, Neo pensou numa iluminação que representasse as mudanças de luz ao longo do dia, levando ao reajuste do alinhamento para que os temas se encaixassem melhor.
5. Wise Guy: David Chase and The Sopranos Max
Passados 25 anos da estreia de Os Sopranos, o produtor e realizador do documentário Alex Gibney quis destacar como a história desta família italiana em New Jersey era tão pessoal para o seu guionista e realizador, uma amálgama de muitas coisas que David Chase viveu e pensou.
Para David Chase, “a arte do cinema era tão envolvente” e as personagens eram a sua segunda pele. As imagens das audições dos atores, como James Gandolfini, Steven Van Zandt, Lorraine Bracco, Edie Falco ou Michael Imperioli são verdadeiras pérolas.
A HBO demorou dez meses para aceitar o projeto e estabelecer uma relação com David Chase baseada na confiança. Foi o conceito certo para a época, em que o sonho e o pesadelo norte-americano partilhavam a mesma história. Bem dizia Tony Soprano: “É sempre tudo sobre dinheiro”.
6. Elizabeth Taylor: The Lost Tapes Max
Linda e vulnerável, a atriz manteve a imagem pública de uma diva do cinema. No documentário The Lost Tapes, a voz de Elizabeth Taylor narra o contrário. Não há imagens que acompanhem a voz de Elizabeth Taylor no auge da carreira, quando, em 1964, conversou com o jornalista Richard Meryman. Tinha então 32 anos.
As 40 horas de entrevistas áudio recém-descobertas estão na base do documentário realizado por Nanette Burstein (Hillary, On the Ropes) e que, neste ano, fez parte da seleção oficial do Festival de Cinema de Tribeca e teve a sua estreia mundial no Festival de Cinema de Cannes.
O documentário desenrola fotografias pessoais, vídeos amadores, outras entrevistas e imagens noticiosas, ilustradas com clipes dos seus papéis icónicos. Corre em paralelo a sua vida na tela, os filmes e os seus casamentos, conquistas e perdas, como a morte do segundo marido, o produtor Mike Todd, que morreu num acidente de avião.
7. O Regresso de Simon Biles Netflix
A ginasta mais premiada da História, com 27 títulos olímpicos e mundiais, regressou, nos Jogos Olímpicos de Paris, como grande favorita, depois de uma paragem de dois anos para recuperar da profunda depressão que sofreu, e que a fez abandonar a competição em plenos Jogos de Tóquio. Neste documentário, a atleta norte-americana fala sobre essa fase, do rígido programa de treino que frequentou no início da carreira, e de como a cultura desportiva ensina as atletas a suportarem todas as dores e a imporem-se metas quase inalcançáveis.
A Parte 2 de O Regresso de Simone Biles, estreada em outubro, entra nos bastidores das performances da ginasta enquanto conquistou três medalhas de ouro e uma de prata nos Jogos Olímpicos de Paris. I.B.
8. The Jinx – Parte 2 Max
Em 2015, quando o final da série documental The Jinx: A Vida e as Mortes de Robert Durst foi para o ar, ninguém poderia imaginar o que iria acontecer. Aliás, estes novos episódios só são possíveis porque, terminada a entrevista, o microfone continuou a gravar e a última frase proferida por Robert Durst, suspeito da morte de pelo menos três pessoas, foi reveladora de uma enorme surpresa.
Nesta segunda parte da série documental, com seis episódios, o espectador fica a saber que Robert Durst foi detido e preso em Nova Orleães na véspera daquele gran finale. Consigo tinha uma arma, mais de 80 mil dólares em dinheiro, o mapa de Cuba e uma máscara de látex, qual truque da saga Missão Impossível, que lhe permitiria sair dos EUA.
Estes seis episódios centram-se na investigação, nos interrogatórios e no julgamento, entre 2020 e 2021, com gravações de telefonemas, vídeos de visitas na prisão, entrevistas com os advogados e outras testemunhas inéditas, mais o tão aguardado depoimento do réu.
9. A Grande Noite da Pop Netflix
Lançada em 1985 para angariar fundos para combater a fome na Etiópia, a canção We Are the World tornou-se um hino, quebrando recordes de vendas. A sua história é contada em A Grande Noite da Pop (97 min), de Bao Nguyen, através de uma coleção de imagens registadas durante a gravação. Há também depoimentos de vários dos envolvidos, entre eles Lionel Richie: é ele quem começa por recordar a origem da canção, primeiro com o impulso decisivo de Harry Belafonte (ator, cantor e ativista de direitos civis), depois através da colaboração de Bob Geldof (que, no Reino Unido, no Natal de 1984, tinha organizado um projeto humanitário semelhante, dando origem à canção Do They Know It’s Christmas?). Foi Richie quem chamou Michael Jackson, então a maior estrela da música pop. Os dois ficaram encarregados de escrever a canção que seria gravada a 28 de janeiro de 1985. Era o dia da festa de entrega dos American Music Awards, em Los Angeles, e muitos dos artistas contactados já estariam na cidade. A produção musical ficou a cargo de Quincy Jones. I.B.
10. Wham! Netflix
De bons amigos nos anos 70 até ícones da pop nos anos 80, George Michael e Andrew Ridgeley recordam neste documentário o seu trajeto nos Wham!. Chris Smith, o realizador, optou por contar uma história de amizade, e de como ela se desenvolve pelas vozes dos seus protagonistas. Wham!, o filme (92 min), conta apenas com uma entrevista nova de Andrew Ridgeley, que esteve envolvido na produção do filme – George Michael morreu em 2016 e a referência a este facto resume-se a um “em memória de” antes dos créditos finais. Como fio condutor, o realizador usa as dezenas de álbuns de recortes compilados pela mãe de Ridgeley, atravessando momentos marcantes na curtíssima duração da banda (cinco anos) até à sua separação, não sem antes mostrar o concerto final em Wembley a 28 de junho de 1986 – George Michael tinha então 23 anos, e Andrew Ridgeley 24. I.B.