Enquanto a primeira temporada de El Presidente (também disponível a 4 de novembro na Prime Video), centrava-se nos casos de corrupção na FIFA pelo olhar de Sergio Jadue (Andrés Parra), ex-dirigente de futebol chileno, a segunda leva de episódios traça o retrato do brasileiro João Havelange (1916-2016), antigo presidente da FIFA, entre 1974 e 1998, e os escândalos de corrupção em que se viu envolvido.
Para lhe dar corpo, o português Albano Jerónimo passou três horas diárias na cadeira da maquilhagem, para uma profunda caracterização. Por não existir muita informação sobre o homem, apenas há do empresário, o ator mais o criador e realizador da série Armando Bó (vencedor do Oscar de Melhor Argumento Original por Birdman) quiseram “criar alguém imperfeito, com falhas”.
“Interessava-nos mergulhar nessa intimidade que nunca é exposta e recriar como ele poderia, eventualmente, ter sido quando estava em baixo, a perder. Porque já sabemos que, quando ganha, é uma máquina do poder e tritura tudo à volta”, conta Albano Jerónimo à VISÃO.
Em ano de mundial de futebol no Qatar, a forma como o líder brasileiro transformou a FIFA numa máquina de fazer dinheiro, interessa ainda mais. Albano Jerónimo classifica a série como “uma espécie de rampa de lançamento e uma oportunidade para o público perceber como chegámos a este ponto: o futebol agigantou-se, a FIFA cresceu de tal modo e desumanizou-se”.
Nesta produção, o que é que foi mais difícil: a parte física e de caracterização ou encontrar a inspiração certa para representar o poder corrupto?
Foram ambas difíceis. Pelas três horas diárias de maquilhagem e caracterização, o que perfez 15 dias sentado na mesma cadeira, percebe-se a paciência necessária – a minha e da equipa de make up, absolutamente incrível.
O nosso objetivo era quebrar um pouco a figura de poder do João Havelange – até porque não existe muita informação sobre o homem. Trabalhámos para trazer à superfície uma humanidade, com a série a começar com ele ainda sem poder. Tanto eu, como o realizador, Armando Bó, quisemos criar alguém imperfeito, com falhas, e o erro aqui é visto como momentos de construção. Interessava-nos mergulhar nessa intimidade do João Havelange, que nunca é exposta, e recriar como ele poderia, eventualmente, ter sido quando estava em baixo, a perder. Porque já sabemos que quando ganha, é uma máquina do poder e tritura tudo à volta.
De que forma o narrador da série, um ex-presidente de um pequeno clube de futebol do Chile [interpretado pelo ator Andrés Parra], vai ajudar a perceber toda a história?
A figura do narrador surge para haver um distanciamento sobre a ação concreta, para que o espectador tenha outra possibilidade de refletir. Tudo isto com um humor refinado, uma delicadeza e subtileza geniais. O futebol passa a ser um ingrediente de algo maior, como a política. Esta série começa com futebol, mas é uma série sobre política, sobre economia e a mercantilização dos nossos valores, sobre a transformação do desporto num negócio.
Em ano de mundial de futebol, ao assistirmos à série, vai ser possível perceber como a competição foi parar ao Qatar?
Espero que sim, que seja um momento de encontro e de reflexão, não só de entretenimento. Que seja o menu de entrada para o mundial, pejado de tanta polémica, de tanta coisa desumana. Esta série é uma espécie de rampa de lançamento e uma oportunidade para o público ter uma janela para perceber como é que chegámos a este ponto: o futebol agigantou-se, a FIFA cresceu de tal modo e desumanizou-se.
El Presidente – Jogo da Corrupção > Prime Video > Estreia 4 nov, sex > 8 episódios