A insistência de Ronan Farrow foi determinante, mas sem a coragem de Ambra Battilana Gutierrez, 29 anos, o mundo não teria testemunhado a condenação de Harvey Weinstein a 23 anos de prisão por assédio sexual e violação. Há quatro anos, o artigo escrito por Ronan Farrow, 33, filho do realizador Woody Allen e da atriz Mia Farrow, publicado na revista The New Yorker, denunciava a conduta sexual imprópria do produtor de Hollywood ao longo de décadas, com revelações inéditas por parte de mulheres que decidiram relatar momentos traumáticos das suas vidas.
A investigação jornalística venceu o prémio Pulitzer, Ronan entrou na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo feita pela revista Time, em 2018, e a ascensão do jornalista continuou no ano seguinte com Catch and Kill: Lies, Spies and A Conspiracy to Protect Predators, livro tornado um best-seller. Seguiu-se o podcast sobre a investigação e agora a série documental baseada nesses mesmos episódios. Aliás, a imagem não é de todo crucial em Catch and Kill: The Podcast Tapes. A edição dos seis episódios, de meia hora cada, puxa muito bem pelos sons, sejam as vozes e a respiração dos entrevistados, os áudios do próprio Harvey Weinstein (que Ambra Battilana Gutierrez conseguiu preservar), o burburinho das cidades, as folhas de papel ou o teclado do computador.
O testemunho de Ambra mostra como a modelo italiana sabia no que se estava a meter ao fazer queixa na polícia de Nova Iorque e ao ajudar as autoridades a tentarem apanhar Weinstein em flagrante – já em 2010, a sua fotografia fazia capa dos tabloides internacionais por ter estado nas festas sexuais do primeiro-ministro italiano da altura, Silvio Berlusconi. No segundo episódio, a história contada por Rowena Chiu corrobora a gravidade dos crimes sexuais. Nos anos 1990 e com 24 anos, esta antiga assistente de Weinstein nos estúdios Miramax relembra com pormenor a tentativa de violação numa ida a Veneza, ao festival de cinema.
É interessante perceber como uma grande empresa de comunicação social se preparou antes de publicar a história. Os editores David Remnick e Deirdre Foley-Mendelssohn, o advogado Fabio Bertoni e os responsáveis pela verificação de todos os pormenores da investigação, Tammy Kim e Fergus McIntosh, não descuraram uma vírgula e mesmo assim foram ameaçados pelo predador sexual. O New York Times não cedeu à pressão, como o fez anteriormente a NBC. Sem medo.
Veja o trailer da série:
Catch and Kill: The Podcast Tapes > Disponível na plataforma de streaming HBO