O documentário David Attenborough: Uma Vida no Nosso Planeta, estreado há dias na Netflix, é muito mais do que o testemunho do naturalista britânico de 94 anos (fez o documentário aos 93). É um grito de alerta (mais um!) de um homem que considera ter sido “um afortunado”, nascido “no tempo certo”, porque “fosse onde fosse, havia vida selvagem”.
David Attenborough, que passou mais de 60 anos a divulgar “o mundo vivo em todo o seu esplendor”, especialmente nos seus programas para a BBC (só para a série A Vida na Terra, passou por 39 países e filmou mais de 650 espécies) confessa-se muito preocupado. “O mundo natural está a desaparecer”, alerta Attenborough que aderiu ao Instagram em setembro passado, porque “o mundo está com problemas”, e, desde então, já alcançou seis milhões de seguidores.
O “resultado do mau planeamento humano” pode levar-nos a “um lugar onde não podemos viver”. “O modo como nós, seres humanos, vivemos agora, está a levar a biodiversidade a um declínio.” E, numa cronologia, ao longo do documentário, faz as contas: se, em 1937, a população mundial era de 2,3 mil milhões de pessoas e a Natureza selvagem se situava nos 66%, em 2020, a população aumentou a uma “velocidade meteórica” para os 7,8 mil milhões em todo o mundo, enquanto que a vida selvagem baixou drasticamente para os 35%. As razões? O abate de milhões de árvores, a destruição das florestas húmidas, o desaparecimento de habitats, o aumento da temperatura, o degelo dos glaciares…
“É a verdadeira tragédia do nosso tempo.” A esta velocidade de crescimento da população iremos “consumir a Terra até a esgotarmos”, diz Attenborough. Mas, “se agirmos já, ainda podemos corrigir este erro”, admite. O especialista britânico em História Natural aponta várias soluções “relativamente simples” para “recuperar o nosso Jardim do Éden”: renaturalizar o mundo, abrandar o crescimento da população (a esta velocidade atingirá os 11 mil milhões em 2100), apostar nas energias renováveis, produzir em menos terra e mudar a nossa dieta alimentar: “O planeta não pode sustentar milhares de milhões de comedores de carne. Não há espaço para isso.”
O documentário – que intercala imagens a preto e branco das primeiras viagens do naturalista pelos lugares, até então, desconhecidos da Terra, com imagens belíssimas a cores da Natureza terrestre e aquática –, começa e termina na cidade ucraniana de Pripiat, abandonada há 30 anos desde o desastre nuclear de Chernobyl, mas onde a Natureza já ocupou o seu lugar e, com ela, trouxe a vida selvagem. Mais do que um testemunho de vida, o documentário é uma espécie de ultimato: “Quem mais precisa de o ver?”, pergunta Sir David Attenborough.
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