Houve uma altura em que seria difícil apresentar uma série como esta, desmontando, passo a passo, as hipocrisias e o lado mais perverso dos anos de ouro de Hollywood no pós-guerra. Mesmo que fosse produzida, a receção dos espectadores seria sempre muito diferente de acordo com o contexto da estreia. Em 2020 – depois dos abalos causados pelo movimento #MeToo e a catadupa de acusações de assédio ao produtor Harvey Weinstein; depois da discussão sobre a subrepresentação de afro-americanos na indústria cinematográfica e nos Oscars – a conjuntura é favorável a esta revisitação crítica dos supostos melhores anos da fábrica de ilusões chamada Hollywood.
Ryan Murphy, o produtor executivo da série (conhecido pelo êxitos Nip/Tuck e Glee, por exemplo) e a sua equipa não perdem tempo com subtilezas e ambiguidades. Vão diretos aos assuntos, de maneira a que a mensagem não possa falhar o alvo: negros e asiáticos só entravam nas produções de Hollywood se encaixassem nos estereótipos vigentes, a homossexualidade era comum mas vivida em segredo, os poderosos donos dos estúdios eram guardiões de um certo statu quo, a hipocrisia reinava.
A ação gira em torno da produção de um filme que nunca existiu (Meg) com personagens maioritariamente fictícias. Nos protagonistas mais importantes há duas exceções: o ator, em versão campónio acabado de chegar à grande cidade, Rock Hudson (interpretado por Jake Picking) e o seu pérfido agente Henry Wilson (Jim Parsons).
Mais do que ser uma série sobre os bastidores e a máquina de Hollywood em 1948, este é um assumido exercício de “e se…?”. E se Rock Hudson se tivesse assumido como gay durante a sua carreira de sucesso? E se uma atriz negra pudesse ter protagonizado um filme e ter ganhado um Oscar no fim dos anos 40? Nunca saberemos a resposta. Mas, aqui, podemos imaginar.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2020/05/HOLLYWOOD_102_Unit_00738RCA-1600x1066.jpg)
Hollywood > Disponível na plataforma Netflix (7 episódios)