Foram precisas três semanas intensas de preparação até o australiano Devon Terrell conseguir captar os maneirismos, os trejeitos, a cadência das palavras e as pausas certas da maneira de falar de Barack Obama, o 44.º Presidente dos Estados Unidos, de saída da Casa Branca. Mais tempo, cerca de dois meses, gastou para conseguir escrever com a mão esquerda e jogar basquetebol. Devon Terrell filmava o piloto de uma série para a HBO quando foi desafiado para interpretar Barack Obama aos 20 anos. “Em certos aspetos, como a mistura de raças, tenho vivido uma vida muito semelhante à dele”, diz o ator, nas notas de produção. Terrell teve, sobretudo, de perceber o que era ser negro, em 1981, na Universidade de Columbia.
Em Barry, realização de Vikram Gandhi, com argumento de Adam Mansbach, apresentada no Festival Internacional de Cinema de Toronto, o jovem Obama fuma no avião que o leva do Havai para Nova Iorque e lê uma carta do seu pai, um queniano que nunca conheceu e que morre nessa época. No campus da universidade, é um estudante solitário e passa a primeira noite em Nova Iorque ao relento.
Em 1981, Morningside Heights, onde Obama lê Invisible Man, de Ralph Ellison, enquanto espera para jogar basquetebol na rua, era um dos sítios mais perigosos de Nova Iorque, a poucos quarteirões dos “Projects” (bairro social) e perto do Harlem, onde imperava a cultura afro-americana. Consta que foi neste tempo que Barack Obama tentou descobrir a sua identidade, o seu caminho no mundo – ele que cresceu no Havai, morou na Indonésia e passou pela Califórnia. É o tempo em que Obama falava de questões políticas, de justiça social e de raça. “Porque é que tudo tem de estar relacionado com a escravatura?”, pergunta-lhe um colega de turma.
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