Começou, em 2000, como uma iniciativa para celebrar o centenário da morte de Eça de Queirós, uma das muitas figuras literárias da (ou que passaram pela) Póvoa de Varzim. Mais ao correr dos anos, o Correntes D’Escritas afirmou-se como o mais importante festival literário do País, com fortes ecos no universo ibero-americano. E se hoje começa a ter rivais à altura, com o surgimento de outros encontros de escritores em outras localidades, mantém o prestígio e a centralidade no ano editorial. E, sobretudo, a capacidade de apresentar um programa cultural que se multiplica em busca de novos públicos.
Em 2025, na sua 26.ª edição, o Correntes D’Escritas, promovido e organizado pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, chega aos 25 anos de promoção do livro e da leitura com muitos motivos de interesse. São 100 convidados europeus, africanos e sul-americanos que partilham as línguas portuguesa e espanhola (e, este ano, também a galega), com 30 estreantes.
Além dos destaques referidos abaixo, as propostas passam pela artes plásticas, com exposições de Alfredo Cunha, Daniel Mordzinski e Olga Santos, e outras dedicadas a Camilo Castelo Branco (nos 200 anos do seu nascimento) e Luísa Dacosta. E pelo folclore, com o projeto ReViraVerso, que procura interpretar velhos temas com novas palavras roubadas à poesia contemporânea.
1. Hélder Macedo e Onésimo

São duas homenagens, cada uma à sua maneira, a figuras com forte ligação ao Correntes D’Escritas. Depois de várias participações, Hélder Macedo regressa à Póvoa de Varzim para a Conferência de Abertura (dia 19, às 15h, no Cine-Teatro Garrett). O catedrático emérito do King’s College de Londres evocará o autor de Os Lusíadas nos 500 anos do seu nascimento, numa intervenção intitulada Luís de Camões: conhecer não ter conhecimento. Já Onésimo Teotónio Almeida, único totalista das 26 edições, é homenageado na revista deste encontro de escritores, também chamada Correntes D’Escritas, com textos de amigos, estudiosos e leitores.
2. ‘Ut pictura poesis’

Diziam os romanos que a poesia era como a pintura, valorizando a capacidade dos poetas de criar imagens e inaugurando uma tradição de descrição de obras de arte nos poemas. Surpreendendo todos os convidados, as mesas de escritores do Correntes deste ano não terão os seus motes em frases ou versos, mas em pinturas bem conhecidas dos últimos séculos. Claro que cada autor poderá, como sempre acontece, seguir o seu caminho, mais próximo ou distante do tema proposto. Mas o ponto de partida será sempre visual, na companhia de Frida Kahlo, Gustave Courbet, Edvard Munch, Hieronymus Bosch, Júlio Pomar ou Paula Rego.
3. Da língua espanhola

Dar a conhecer a riqueza das literaturas que se escrevem em espanhol (e, dentro de Espanha, também em galego, catalão ou basco) tem sido uma das grandes mais-valias do Correntes, com centenas de autores já convidados. Este ano, da América do Sul vêm representantes das novas gerações: a argentina Ariana Harwicz e o venezuelano Rodrigo Blanco Calderón, ambos com livros acabados de editar em Portugal. Do país vizinho, há uma embaixada maior: o ensaísta Antonio Monegal, a romancista Marta Perez-Carbonell, também com novos títulos entre nós, e as poetas Amalia Bautista e Yolanda Castaño.
4. Tradução e educação

O Correntes tem vindo a alargar o seu programa cultural, com propostas para públicos muitos diversos. Uma das novidades do ano passado, reforçada este ano, é o encontro de tradutores, coordenado pelo alemão Michael Kegler, que convidou, entre outros, Harrie Lemmens, Guilherme Pires, Alda Rodrigues, Margarida Vale de Gato, Odile Kennel, Gisela Casimiro, Inês Pedrosa e Nuno Quintas. Com curadoria de Raquel Patriarca, também volta a realizar-se a formação creditada para professores, este ano com a sugestiva designação: O Encontro como Ponto de Partida, Talvez de Chegada em Escala de Pausa Curta. Há, ainda, oficinas de Amélia Muge, Ricardo Fonseca Mota e Sandra Barão Nobre.
5. Patrícia Melo e outros lusófonos

Foi convidada na edição de 2021, que se realizou exclusivamente online por causa da pandemia, mas só este ano está, pela primeira vez, na Póvoa de Varzim. A escritora brasileira Patrícia Melo, autora de uma celebrada obra, com muitos matadores, tiros e crimes, mas também retratos citadinos e femininos, é um dos autores de língua portuguesa que se destacam no programa, nomeadamente dos que representam toda a lusofonia. Do Brasil, regressa ainda Ignácio de Loyola Brandão, a que se juntam Alexandre Vidal Porto ou Rafael Gallo. Da África de expressão portuguesa, destaquem-se as presenças dos moçambicanos Bento Baloi e Mélio Tinga, os angolanos Ana Paula Tavares e Ondjaki e o cabo-verdiano Germano Almeida.
6. Novos livros
O Correntes é um festival de muitos escritores e livros, com 30 lançamentos previstos no programa. É o verdadeiro arranque editorial do ano, com uma enorme oferta de novos romances, ensaios e poemas. Uma das surpresas é a estreia literária da cantautora Luísa Sobral (na foto). Depois de um livro infantil, sai o seu primeiro romance, Nem Todas as Árvores Morrem de Pé, passado na Alemanha dividida do pós-guerra. Contos Suicidas, de Fernando Pinto do Amaral; Escrevo por Vingança à Morte, de Cláudia Lucas Chéu; Ódio, de José Manuel Fajardo; Três Mulheres na Cidade, de Lara Moreno, e Cartografia, de Minês Castanheira e Raquel Patriarca, são alguns dos outros lançamentos.
7. E o vencedor é…
Em anos ímpares, o Prémio Literário Casino da Póvoa, o maior galardão associado ao Correntes D’Escritas, é dedicado à poesia. A decisão caberá, este ano, ao júri constituído por Ana Paula Tavares, João Gobern, Margarida Ferra, Maria de Lurdes Sampaio e Ricardo Marques, que selecionaram 11 livros finalistas, assinados por Adília Lopes, Andreia C. Faria, Bernardo Pinto de Almeida, Eucanaã Ferraz, João Luís Barreto Guimarães, João Melo, Jorge Gomes Miranda, Luísa Freire, Nuno Júdice, Paulo Tavares e Ricardo Gil Soeiro.
Correntes D’Escritas > Vários locais da Póvoa de Varzim > 15-22 fev > programa completo aqui