À vista de um leigo, a descarga da azeitona para os tegões tem o seu quê de encantatório se nos deitarmos à adivinhação sobre quais serão as variedades que dão origem ao Azeite de Moura DOP, “o primeiro com Denominação de Origem Protegida em Portugal, uma certificação obtida há 30 anos”, diz Hélder Transmontano, diretor-geral da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos.
Carregamento atrás de carregamento, este fruto, incluído na Dieta Mediterrânica, é trazido pelos olivicultores associados, cerca de 1300 num universo de 4000 sócios. E assim há de continuar a acontecer até ao final de janeiro, quando terminar a campanha iniciada em novembro.
O ritual repete-se há 70 anos, nesta que é a maior cooperativa olivícola do País, com 20 mil hectares de olival na sua área de abrangência, e o maior e mais moderno lagar. Este ano, “a produção estimada é de cerca de 40 mil toneladas de azeitona e de quase 6500 toneladas de azeite”, diz o presidente da instituição José Duarte.
O Azeite de Moura DOP é feito exclusivamente com as variedades Cordovil de Serpa, Galega e Verdeal Alentejana, “um azeite maduro, com algum picante, um pontinho de verde folha, a fazer lembrar a planta de tomateiro, conjugada com um toque subtil de maçã e notas de amêndoa e frutos secos,” explica a cicerone da nossa prova de azeites, feita na loja da Cooperativa, um dos pontos de paragem da nova Rota do Azeite de Moura, lançada no final de novembro.
Pé no olival
Como se escreveu em cima, na loja da Cooperativa pode fazer-se a prova do azeite de Moura e ficar a conhecer um pouco da sua história. Mas bom, bom mesmo, é fazer o percurso pedestre de três quilómetros sugerido na nova rota lançada pela Câmara Municipal de Moura. Com grau de dificuldade fácil, a volta pede tempo, como tudo no Alentejo, aliás, e deve ser feita durante a campanha da apanha da azeitona, para se apanhar todo o ciclo produtivo.
O passeio começa numa extrema, num olival tradicional desta cidade, conhecida como terra mãe do azeite no Alentejo. O seu património olivícola inclui não só os olivais mas também o Lagar de Varas de Fojo, convertido em museu e testemunho do fabrico de azeite no século XIX, e o Jardim das Oliveiras. Localizado em frente ao lagar-museu, dá a conhecer as diferentes variedades desta árvore, incluindo uma oliveira albina, onde as azeitonas nascem verdes e, ao amadurecerem, vão ficando brancas.
Com sete pontos de passagem, a Rota do Azeite de Moura, que também inclui locais ligados à produção, defesa, promoção e comercialização do azeite, é um passeio entre o campo e o coração da cidade que se pode fazer autonomamente, de mapa na mão, ou numa visita guiada, orientada pelos funcionários do Posto de Turismo (mediante marcação).
Aqui chegados, aproveite-se para percorrer as ruas de Moura. Sugerimos passar pela mouraria e pela zona das ruas floridas, descobrir a Igreja de São João Batista, Monumento Nacional, e subir ao castelo.
O roteiro gastronómico ficará para mais tarde, porque primeiro é preciso recuperar forças. O Hotel de Moura fica instalado no antigo convento da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, fundado no século XVII e adaptado para Grande Hotel de Moura no ano de 1900. O nome de Amália Rodrigues faz parte da lista de hóspedes ilustres – da varanda do quarto 101, onde pernoitou, cantou aos mourenses que chamavam por ela da Praça Gago Coutinho, também conhecida por jardim dos mal-encarados.
Bendito azeite que chegas ao prato
Há coisa melhor do que começar uma refeição a molhar o pão num bom azeite? É assim em vários restaurantes da cidade, incluindo na Taberna O Barranquenho, que casa as tradições alentejanas com o vinho e os petiscos. Há três anos, o jovem Luís Rico deu nova vida a esta antiga tasca e transformou-a num lugar diferente dos que havia em Moura, evocando a tradição tauromáquica e o artesanato tradicional, na decoração, e o cante alentejano, todas as quintas-feiras com atuações de vários grupos e artistas. A carta, inspirada no receituário familiar, apresenta sugestões como os ovos com batatas e lascas de presunto, o frango frito da Avó Bia, bem temperado e crocante, e os saborosos calamares do Tio Estêvão.
Em Moura, há bons sítios para comer, como o Andre’s, junto ao jardim dos mal-encarados. O negócio familiar, com André na sala e a mulher, Laura, na cozinha, é uma boa opção para os amantes de carne, seja uma posta do acém ou um t-bone de mertolenga, bem grelhado e suculento. Também servem um bom choco frito, no prato ou na versão sanduíche em bolo do caco, e um prego da alcatra, também em bolo do caco, e pratos do dia.
De portas abertas há mais de meio século, O Molho é uma referência da cozinha tradicional alentejana e mourense. A esta casa singela vai-se pelo sabor do cozido de grão com carne e chouriço, pelas costeletas de borrego bem fritinhas, pelo caldo de espinafres com bacalhau, ovo e queijo fresco, pelas migas de espargos com carne de porco preto. Os grelhados – lagartos, abanicos, plumas de porco preto – também são de levar em conta e chegam à mesa com gulosas batatas fritas caseiras.
Avios na mercearia
Com azeite, essencial na gastronomia portuguesa, e mais ainda na alentejana, faz-se o tradicional Bolo Podre e os biscoitos de azeite, uma bela açorda alentejana e migas gatas, conservam-se as azeitonas, para que se possam consumir durante todo o ano, e confeciona-se um gaspacho, que tão bem sabe no verão. Muitos destes pratos e doces provam-se nos restaurantes. mas também se levam para casa.
Na centenária Casa Cavalheiro, do casal Manuel Luís e Gina, destacam-se os enchidos artesanais produzidos na casa e a variedade de artigos de artesanato, dos cestos de vime aos taleigos alentejanos. Já a mercearia catita de D. Amália e do Sr. Herberto Telo (na mesma praça do restaurante Andre’s) está recheada de produtos locais, dos bolos, enchidos e queijos aos vinhos e pão fresco. Trazer uma destas iguarias é uma boa forma de recordar esta viagem, cheia de aromas e sabores.
Entre o olival e a cidade: Pontos de paragem para explorar
Rota do Azeite
Olival tradicional > Estrada dos Escoteiros
Olival moderno > R. de São Sebastião
CEPAAL – Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo > Pç. Gago Coutinho, 2
Jardim das Oliveiras > R. S. João de Deus, 17 > seg-dom 9h-12h30, 14h-17h30
Lagar de Varas do Fojo > R. S. João de Deus, 20 > T. 285 253 978 > seg-dom 9h-12h30, 14h-17h30 > grátis
Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos > R. Forças Armadas, 9 > T. 285 250 720
Loja da Herdade dos Coteis > R. de S. Lourenço, 4 > T. 285 253 363
Fora da rota
Andre’s > Pç. Gago Coutinho, 6A > T. 96 637 2119 > qui-seg 12h-15h, 19h-22h, qua 19h-22h
O Molho > R. Nova do Carmo, 11 > T. 285 252 895 > ter-dom 12h-16h
Taberna O Barranquenho > R. de S. Lourenço, 2 A > T. 96 146 3813 > qua-sex 11h-15h, 17h-1h, sáb-dom 11h-1h
Hotel de Moura > Pç. Gago Coutinho, 1 > T. 285 251 090 > a partir de €40
Loja da Esquina > Pç. Gago Coutinho, 14 > T. 92 512 4193 > seg-sex 7h30-13h, 15h-19h, sáb 7h30–13h
Casa Cavalheiro > Lg. da Latôa, 21 > T. 96 582 4974 > seg-sex 9h-13h, 15h-19h, sáb 9h-19h