Quando quisermos estar sentados num cadeirão e à sombra, tomar uma bebida fresca ao som de boa música, fazer uma refeição gulosa ou, simplesmente, olhar para as paredes – e estas têm arte urbana impressa –, o Mirari é o lugar certo. Fique surpreso, admire primeiro e deixe-se maravilhar depois, tal como diz, em latim, o significado da palavra mirari.
Onde a freguesia da Estrela acaba e a de Alcântara começa, pelo menos na nossa bússola alfacinha, funcionou, na segunda metade do século XIX, a Fábrica Sol da CUF – Companhia União Fabril, onde se faziam sabões e sabonetes, velas de estearina, óleos (palmiste, linhaça, purgueira, amendoim e rícino), adubos e coconote para a engorda de animais.
O potencial desta fábrica, abandonada e em muito mau estado, atraiu uma mão-cheia de investidores ligados a negócios de arte, hotelaria e restauração, música, marketing e produção de eventos: os franceses Louis Bayle, Marc-Antoine Schaetz, Paul Cukierman e Tolga Fidan (de origem turca) e a luso-brasileira Marina Mendes.
Nos cerca de 1500 metros quadrados do Mirari, que na verdade funciona a céu aberto, aproveitando o amplo logradouro da antiga fábrica, há espaço para a cultura e o convívio, instalações de arte, festas e uma praça de restauração com food trucks de muitas comidas apetitosas.
“É um pop up cultural e espontâneo, como tantos que existem espalhados pelas grandes capitais europeias”, descreve o gerente Rodrigo Vasconcelos enquanto nos guia numa visita a meio da tarde. Para dinamizar o local, em funcionamento em horário contínuo, a agenda do Mirari prima pela diversidade, conseguindo assim atrair vários géneros de público. Misturar nómadas digitais, portugueses e estrangeiros, DJ e artesãos, famílias e artistas é uma realidade no Mirari.
A cada dia uma festa
As quartas estão programadas para algo inusitado. Além do mercado noturno (21 de agosto, das 16 às 23 horas), com bancas de arte, moda de autor mais sofisticada, seleção vintage, discos de vinil, gastronomia e DJ, realizam-se torneios abertos de petanca, a partir das cinco, num recanto para o jogo, com bolas de origem provençal.
A música é uma constante e enquanto as quintas dão palco a novos artistas, às sextas convidam-se DJ para sets animados.
Em agosto, os domingos ganham vida com o mercado local (consultar datas) encontrando-se à venda artesanato, roupa de pequenas marcas, discos, artigos vintage ou em segunda mão, e os sons do Brasil com a Roda de Samba (dia 25) a pôr toda a gente a dançar.
O mais natural é que pelo meio lhe possa cheirar a pizza acabadinha de sair do forno – são as da La Matta, pequena sucursal da pizzaria no bairro da Graça. Os hambúrgueres espalmados, ou melhor as almôndegas prensadas do Stack Smash Burgers, que em breve terão uma nova casa nos Anjos, também têm dado que falar.
Mais internacionais são os sabores do Médio Oriente nas Bruxas, com húmus e couve-flor (ou com carne de vaca ou frango), shakshuka (ovos e tomate), malabi (pudim), pão pita; os crepes franceses doces ou salgados no Crêpe o’Clock; a Grécia no Gyra-Sol e os wraps mais fofos, mais grossos; e a sedução italiana dos panini do Serafini.
O grande balcão do bar reserva ainda lugar para uma estação de açaí e os gelados portugueses da La Paleta, picolés de fruta fresca, além de cocktails originais.
Próxima do portão de entrada, a concept-store Trippy Zipper junta moda contemporânea, cerâmica e plantas, iluminação e mobiliário restaurado da Trópico Interiors.
Sentados junto ao bar, perto de uma das food trucks ou num recanto mais sossegado é impossível não reparar nas paredes ilustradas, nos murais de artistas internacionais como Kouka Ntadi, Kampus e Kraken, a instalação de Mina Mohseni, produzida pelo Studio Maotik, e do português Rodrigo Matta, com várias pranchas da sua banda desenhada.
Em breve, irão também organizar noites de cinema e, como nos diz Rodrigo Vasconcelos, “podemos criar mais e crescer.” Aberto há um ano, sabemos que o Mirari é um projeto efémero, mas a boa notícia é que não se sabe a data do fim.
Mirari > Av. 24 de Julho, 170, Lisboa > seg, qua-qui 16h-23h, sex-dom 12h-23h, praça da restauração a partir 12h