O mapa da arte urbana do Porto não para de crescer. Depois do Mural Coletivo da Rua da Restauração, desde janeiro que há outras cores quentes dispostas ao longo da Rua das Flores. É impossível caminhar apressadamente por esta artéria, pois sobram motivos para uma observação atenta. Para lá da arquitetura típica, de varandas em ferro e casas cobertas a azulejo, há personagens coloridas e “músicos” inesperados, ondas e marinheiros, Natureza e palavras de parede à solta. A nova produção criativa resulta da convocatória do Programa de Arte Urbana lançado pela empresa municipal Ágora para uma intervenção em equipamentos alinhados ao longo daquela artéria. Nesta segunda edição (a primeira aconteceu em 2014), sob a temática dos “500 anos da Rua das Flores”, oito artistas soltaram o traço e iluminaram as 24 caixas de distribuição de energia elétrica com outras cores e formas.
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Das 16 propostas recebidas, o júri selecionou os trabalhos das duplas Michelle Dona e Guilherme Sommermeyer, Isabella Amaral e Justin Santiago (Bella Phame), Isa Silva, Isadora Machado, Ricardo Macedo e Tiago de Carvalho (Oaktree). Entre a estreia de uns e a intenção de outros em mostrar a sua criativade à cidade do Porto, os artistas passaram dois dias à volta das mais de duas dezenas de caixas. Isa Silva, do projeto Square Faces, tinha há tempo a vontade de deixar uma marca no Porto, a cidade da bisavó, e isso deu-lhe força para ultrapassar o frio dos dias. “Foi o maior desafio neste trabalho”, conta à VISÃO Se7e a artista urbana, que se inspirou nas pessoas da cidade para pintar quatro caixas. Da pintura de chão ao mural, passando pelos vidrões, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, nos trabalhos de Isa observam-se sempre personagens coloridas e contornadas a traço preto. “É a minha assinatura”, continua.
Já para Guilherme Sommermeyer, cujo trabalho foi partilhado com Michelle Dona, esta foi a primeira experiência no âmbito da arte urbana. O aluno de mestrado do curso de pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, vê neste género de projeto “uma possibilidade de desenvolver o seu trabalho”, mesmo que condicionado pelas linhas definidas no programa e ao lugar a ocupar. Guilherme optou por “algo figurativo e com um pé na ilustração mais cómica”, com duas gaivotas vestidas de fato e gravata, e envolvidas num diálogo musical, enquanto Michelle optou recriou o passado dos jardins e do verde da Rua das Flores, a partir de elementos gráficos, e fez sobressair a Natureza de novo na baixa. Além de criar uma relação bastante visual, estes trabalhos, diz Guilherme, permitem “soprar um pouco da arte nas cidades.” De carácter efémero ou permanente, a intervenção artística é um dos bons motivos para se perder na baixa no Porto.