1. Meter ordem na despensa
Tem pouco tempo para cozinhar e, como se isso não bastasse, não encontra aquela especiaria imprescindível. Organizar a despensa (onde tudo parece caber), de forma prática e funcional, é libertador. É preciso encontrar soluções de acordo com as necessidades da família e envolvê-la no processo, para todos perceberem como foi feita a reorganização. Tenha tempo disponível, para não deixar a tarefa a meio. Comece por tirar tudo aquilo que tem na despensa e limpe-a de alto a baixo. Deite fora o que está fora de prazo e retire tudo o que está por aí perdido. Pode, então, começar por agrupar os produtos de acordo com a sua categoria (proteínas, bolachas, cereais, etc.). À frente, deixe aqueles que estão mais perto do final do prazo e os que utiliza mais.
2. Verdes são os apartamentos
Nem todas as casas têm um quintal, mas qualquer varanda, bancada de cozinha e parapeito de janela podem servir para cultivar pequenos legumes e ervas aromáticas. Para que a horta cresça saudável, siga estas dicas: cuidar da terra (por exemplo, com húmus de minhoca, rico em nutrientes); utilizar sementes ou plantas de origem biológica; regar, todos os dias, de manhã e ao final do dia, e deixar a terra húmida, mas não encharcada; saber quais as culturas da época e respeitá–las; atacar pragas com preparados biológicos, por exemplo de alho (picar sete dentes de alho e acrescentar-lhes um litro de água); consultar a tabela de consociações para saber quais as plantas que convivem melhor.
3. Esticar como um gato
Não vamos falar de planos de treino, que devem ter em conta a condição física de cada pessoa, mas de simples alongamentos, essenciais neste período de maior sedentarismo para aliviar a tensão muscular e aumentar a flexibilidade. Há sequências que até podem ser feitas enquanto está sentado à secretária, para exercitar pescoço, ombros, braços, costas e pernas. Sempre muito lentamente e só até àquele ponto em que não sente dor. De qualquer forma, evite estar longos períodos sentado. A cada hora, tente mover-se pelo menos três minutos. E dê uma caminhada sempre que puder.
4. Fazer um diário gráfico (e nem precisa de saber desenhar)
Eduardo Salavisa, desenhador e fundador dos Urban Sketchers, dizia que “não há dúvida de que, quando se tem maior disponibilidade, se desenha mais e melhor”. Referia-se às viagens, mas ainda que nós não possamos deambular por aí, não nos falta tempo para observar e registar ideias, impressões ou imagens do quotidiano numas folhas em branco. Saber desenhar é irrelevante; experimente escrever, fazer colagens, recolher flores ou folhas, juntar fotografias, papéis, objetos curiosos e tudo o mais que aquele pequeno caderno (e a imaginação) permitir.
5. A vida num álbum de fotografias
Há quanto tempo não folheia um álbum de fotografias? Com a voragem do digital, acumulamos milhares de imagens no telemóvel e no computador, mas raramente as olhamos com atenção. Pode idealizar um projeto fotográfico ou simplesmente aproveitar para registar os pequenos nadas em família. Escolha, então, aquelas imagens especiais que quer passar para o papel e guardar no álbum… para mais tarde recordar.

6. A magia do corta e cola
Enquanto folheia as revistas à procura das imagens perfeitas e as recorta em pedacinhos, montando, depois, o puzzle da composição visual, o tempo parece parar. As colagens soltam o surrealista que há em nós, e a associação de ideias e de metáforas ganha uma força inesperada. Margarida Girão, ilustradora habituada a realizar workshops de colagens, não tem dúvidas dos benefícios da atividade. “É muito relaxante. As pessoas entram numa meditação em ação, estão superfocadas”, conta. Para quem sinta o impasse da folha em branco, sugere, por exemplo, começar a composição a partir da fotocópia da fotografia de um familiar – para um presente original e personalizado.
7. Confinados, mas belos
Não é por estarmos fechados em casa que nos vamos esquecer de tratar o corpo e de lhe conceder uns mimos. Para quem queira poupar nos produtos de beleza, existem várias soluções caseiras, por exemplo, de esfoliantes para remover as células mortas e regenerar a pele. De açúcar e óleo de coco, de azeite e sal, ou de aveia e mel, não faltam receitas. A aplicação pelo corpo deve ser feita em movimentos circulares, sem esquecer o creme hidratante, no final. O ideal é fazer a esfoliação de 15 em 15 dias.
8. Armados em Ratatui
Recorde um almoço de domingo na casa dos pais ou dos avós. Qual era o prato fantástico que punham sobre a mesa? Aquele bem tradicional que raramente se atreveu a fazer? Abra, por exemplo, O Livro de Pantagruel, escrito por Bertha Rosa-Limpo em 1945, com mais de cinco mil receitas (na edição atual), ou o Cozinha Tradicional Portuguesa (1982), de Maria de Lourdes Modesto, duas referências da nossa culinária, e aventure-se a fazer uma das suas receitas. De umas papas de sarrabulho a um cabrito estonado à moda de Oleiros, de umas fatias de Tomar a um pudim abade de Priscos, perpetue estes saberes (e sabores) seculares.
9. Abraçar o verde
Em países como o Japão e o Reino Unido, os “banhos de Natureza” são já prescritos pelos médicos. Os benefícios destes “mergulhos”, descritos em várias publicações científicas, incluem a redução dos sintomas relacionados com a depressão, ansiedade e stresse, a restauração psicológica, a maior capacidade cognitiva e de atenção, a maior felicidade, satisfação e qualidade de vida, além do aumento do bem-estar geral. Bastam duas horas por semana em contacto com a Natureza, seja em zonas selvagens ou no parque, para já se sentirem as mudanças.

10. Upcycling: Nada se perde, tudo se transforma
Nos seus workshops, Alexandra Arnóbio não se cansa de passar a mensagem de que “o lixo de uns pode ser o luxo de outros”. Defensora do upcycling, ou seja, da reutilização criativa dos resíduos como forma de redução da pegada ecológica, tem o olho treinado para reconhecer o potencial de uma peça. Uma chave antiga vira um cabide de parede; uma caixa de fruta é convertida em teatro de sombras, ou uma porta velha pode ser transformada em tabuleiro. O que é preciso é desconstruir os objetos e dar largas à imaginação. O ambiente agradece.
11. Se não comer, conserve
Quando não se consegue dar vazão aos vegetais (ou se quer simplesmente aproveitar os talos), opte por fazer pickles. A fórmula básica deste método de conservação é simples: para uma medida de água, a mesma quantidade de vinagre (não pode ser balsâmico) e, para cada litro de líquido, uma colher de sopa de sal marinho e três de açúcar. A esta salmoura, que se leva a ferver, pode–se adicionar outros temperos, como sementes de mostarda e folhas de louro. Colocam-se, então, os vegetais, cortados em pedaços, em frascos esterilizados e despeja-se a salmoura neles. Depois de esfriar, tape bem e leve ao frigorífico. Após reservar durante duas a três semanas, os pickles estarão prontos a comer.
12. Mudar a sala em sete dicas
Para atenuar o cansaço de estar fechado entre quatro paredes, dê a volta à decoração e torne as divisões da casa mais harmoniosas. Comece pela sala. Filipa Namora, arquiteta e designer de interiores, aponta algumas dicas: definir um estilo, à partida; selecionar uma paleta de cores (de preferência, tons neutros); identificar as dinâmicas de utilização (zona de jantar, de leitura, de estar, de ver televisão…) e os espaços de circulação; evidenciar a nossa personalidade na escolha dos objetos; apostar numa boa iluminação; ter a escala do mobiliário adequada ao tamanho da sala; resistir a comprar só pela aparência e valorizar o conforto e a funcionalidade das peças.
13. Uma caminhada vigorosa, ou uma corrida, não sabe o bem que lhe fazia
Se o tempo de clausura despertou o gosto pela caminhada e até mesmo pela corrida, este também serviu de desculpa para sair à rua e dar uma voltinha ao quarteirão ou explorar o jardim mais próximo. E ainda bem, dizemos nós. Afinal, provam os estudos, o exercício físico aumenta não só a esperança média de vida como também melhora a qualidade de vida durante esses anos. Na saúde mental, beneficia o humor, a qualidade do sono e reduz a ansiedade, devido à libertação de hormonas e neurotransmissores associados ao bem-estar (serotonina, dopamina, endorfinas). Aposte nuns ténis confortáveis e dê o primeiro passo. O Gabinete do Desporto da Universidade de Coimbra disponibiliza um Plano de Marcha e Corrida, um programa de iniciação com três níveis, com orientações.
14. Fazer xeque-mate
Desde o enorme êxito de Gambito de Dama, na Netflix – a série alcançou o topo das visualizações em 92 países –, o interesse pelo xadrez aumentou. Os sites da modalidade tiveram um crescimento expressivo de adeptos e, apesar de o futuro passar muito pelo digital, há que admitir que ver as peças a moverem-se num tabuleiro real tem outra classe. Porque não incentivar os filhos a fazer-lhe companhia? Afinal, o jogo é uma ferramenta de desenvolvimento muito completa, incentivando a memória, a concentração, o planeamento e a capacidade de tomar decisões.
15. Escrever a alguém e esperar pela volta do correio
Há cada vez mais maneiras de comunicarmos uns com os outros, e isso, curiosamente, tornou-nos preguiçosos. Em vez de telefonarmos, mandamos uma mensagem. O email, por sua vez, criou a preguiça de escrever uma carta e de pô-la no correio. Ora, escrever uma carta e ir pô-la ao correio não é assim tão trabalhoso ou demorado, e nem tão–pouco um email substitui uma carta escrita à mão, dentro de um envelope, que nos chega a casa. Na era do digital, voltar a escrever à mão vai custar, apostamos. Faça um rascunho, ou muitos, depois passe-o a limpo e envie. Não sejamos preguiçosos!
16. Apanhar flores e experimentar fazer um arranjo especial
Quem já experimentou sabe que a coisa tem o que se lhe diga. Apanhar algumas flores e, depois, tentar compô-las numa jarra de um modo especial? Requer engenho e arte, pois. E também alguns conselhos. Estes são, em cinco curtos passos, os de Diana Bastos, do projeto Da Eira: 1) é importante cortar as flores com uma tesoura afiada, a 45 graus, de modo a não ficarem com rasgos no caule; 2) as flores devem ser limpas, sem folhas, abaixo da linha da água; 3) encher a jarra com dois terços de água e mudá-la todos os dias; 4) não é preciso utilizar uma jarra convencional e, com a ajuda de uma rede de galinheiro, é mais fácil segurar os vários pés; 5) para os iniciados, a regra é que o arranjo tenha entre 1,5 a 2 vezes o tamanho da jarra; 6) e, finalmente, na composição, começa-se pela base, com os verdes, as flores maiores e, depois, a partir daí, é ir criando pontos focais, tendo a preocupação de formar triângulos assimétricos com diferentes alturas. Como em quase tudo, o truque é experimentar, experimentar, errar, errar de novo, e voltar a experimentar.
17. Devorar os livros de viagens da Tinta-da-China
A coleção de literatura de viagens da editora Tinta-da-China é, a par da Terra Incógnita, da Quetzal, uma das melhores do género publicada em português. Desde logo, pelo design irrepreensível de Vera Tavares, capaz de transpor as linhas clássicas para os dias de hoje. Dirigida por Carlos Vaz Marques, a coleção já vai para cima de 50 títulos – na sua maioria de autores estrangeiros, como Jan Morris, Olivier Rolin, Peter Carey, Alberto Moravia ou Julien Green, sem esquecer também os lusófonos Ruy de Castro, Almeida Faria ou Paulo Varela Gomes. Em breve, sairão Trieste, de Jan Morris, e Um Africano na Gronelândia, um clássico do escritor togolês Tété-Michel Kpomassie. Da viagem que os livros permitem, saberá cada um – sendo certo que, recordando a célebre frase de Santo Agostinho, o mundo é um livro, e quem não viaja acaba por ler sempre a mesma página.

18. Começar um caderno de colorir
A ideia é desligar de tudo e, sozinho ou em família, com lápis de cor ou canetas de feltro, começar a pintar sem grandes preocupações. No mercado, há à venda vários cadernos para colorir, uns chamam-se “anti–stresse”, outros vão buscar a noção de mindfulness. Designações à parte, todos funcionam como uma alternativa às velhinhas palavras–cruzadas na difícil arte de passar o tempo confinado. Segundo Célia Paulo, da direção da Sociedade Portuguesa de Arte-Terapia, o objetivo da arte-terapia é que os “artistas” não tenham constrangimentos, já que as obras que produzem não têm de ser perfeitas nem de ser entendidas pelos outros: “Na arte-terapia, o certo e o errado, o bonito e o feio não existem. Quando criamos qualquer coisa, nasce um espaço criativo no qual manifestamos aquilo que, muitas vezes, já não conseguimos dizer através das palavras.”
19. Baralha, corta e dá: vamos jogar à canasta?
Um baralho de cartas pode ser um trunfo contra o tempo. Que o digam as senhoras que acompanhavam os maridos nas idas aos clubes de bridge – a elas, restava-lhes a canasta, o jogo que terá sido inventado no início do século XX, no Uruguai. Para jogar são precisas duas ou quatro pessoas, dois baralhos de 52 cartas (os jóqueres também entram) e alguma memória visual. O objetivo é reunir sete ou mais cartas na sequência do mesmo naipe, na mesa, até se ficar com as mãos vazias. Os molhos de cartas chamam-se canastas e materializam–se em pontos. Quem chegar primeiro aos cinco mil pontos vence.
E ainda…
Permitam-nos uma pequena vaidade, nesta última sugestão: ler a versão em papel da VISÃO, a newsmagazine mais lida do País, que, no final deste mês de março, celebrou 28 anos!
- Com Inês Belo e Sara Belo Luís