Que atire a primeira pedra quem nunca estacou junto ao portão de um pátio a morrer com ganas de lá entrar. Na Paris de há vinte anos, quando os acessos ainda não estavam todos limitados por códigos, eu nunca perdia uma oportunidade de espreitar as entradas de prédios antigos. A expetativa por vezes era maior do que aquilo que encontrava. Tant pis, já ia avisada por Pessoa que, no seu proverbial pessimismo, escreveu: “Esperar pelo melhor é preparar-se para o perder.”
Uma destas tardes passei pelo número 30 da Rua da Alegria e entrei. O portão de madeira estava aberto e a tipografia da Editorial Minerva quase a fechar. Queria ver uma vez mais as suas máquinas, ouvir-lhes o barulho, cheirar as tintas, mas quem trabalha a mando da deusa da sabedoria e das artes ia descansar.
Se a sede da Minerva é no Bairro Alto, o “local de trabalho” fica paredes-meias com o Jardim Botânico.
Mesmo sendo uma informação para inspetor de trabalho ler, faz sentido. Há mais flores no caminho à esquerda e podem aparecer gatos ao virar da esquina – um deles é uma espécie de mascote por ali. Ele e o almanaque Borda d’Água, que há 88 anos, quase tantos como os da editora, nos diz qual é a melhor altura do ano para plantar morangueiros.