Os boatos, costuma dizer-se, têm sempre um fundo de verdade. E estes, acerca do novo espaço com o carimbo de qualidade Manuel Reis, revelaram- -se verdadeiros, agora que de facto abriu, suavemente e sem alaridos, o Rive-Rouge, no primeiro andar do Mercado da Ribeira, em Lisboa. O nome é difícil de memorizar e resvala facilmente para um rive gauche – deve a sua autoria à dupla Francisco Rocha, artista plástico, e João Botelho, o cineasta mais assíduo da discoteca Lux.
Conte-se, em jeito de anedota, que contém o espírito da coisa, que, no ensaio geral, feito na semana passada com todos os colaboradores mais ou menos diretos, as câmaras dos telemóveis foram tapadas com autocolantes para que ninguém perdesse tempo a registar em imagens aquele momento. Isso não vai voltar a acontecer, mas a ideia é que, no Rive-Rouge, se conviva à moda antiga. A música, por acaso, ajuda. Está numa altura ideal para se poder conversar e, caso seja essa a vontade, dançar ao som dos djs nacionais que costumam estar também no bar e no terraço do Lux.
Como abre às cinco da tarde, haverá dois turnos e dois ambientes musicais, um antes (mais calmo) e outro depois das dez (a atirar mais para a dança). As luzes também vão mudando de cadência, e isso influencia a tonalidade do ambiente, que oscila entre vários vermelhos. Sempre vermelho. Rouge, lá está. Quando o espaço passou para as mãos de Manuel Reis, a estrutura já estava montada. Mas, claro, ele quis imprimir a sua marca, e isso e outros pormenores, que agora não interessam para o caso, atrasaram esta abertura. O assédio do mercado, esse, vem de longe.
Atenção: o Rive-Rouge não é nem quer ser uma delegação do Lux, porque o Lux é irreproduzível. Nem se trata de uma extensão do Mercado da Ribeira, bastante agitado lá em baixo. Aliás, a entrada faz-se de forma independente, controlada por uma dupla de porteiros, e as janelas estão intencionalmente tapadas por cortinas para que não se aviste o food court mais concorrido de Lisboa.
Por outro lado, a ligação ao restaurante Pap’açorda, que há sete meses se mudou para ali, depois de 35 anos no Bairro Alto, quer-se total. Quem lá for jantar, pode percorrer mais um bocadinho do corredor que o leva até à casa de banho e entrará diretamente no Rive-Rouge. E também há de ser possível encomendar, no bar, alguns dos petiscos do restaurante. E beber, claro, que esse será o seu ADN natural.
Rive-Rouge > Mercado da Ribeira > Pç. D. Luís I, Lisboa > T. 21 346 1117 > ter-dom 17h-4h