Criou-os de raiz e decorou-os de uma maneira muito original, com antiguidades e bric-a-brac, espelhos e veludos. Acabaram por ser conhecidos por isso mesmo: primeiro, pelo exotismo da decoração; numa fase posterior, pelos clientes que os frequentavam e pelas histórias que ali se contavam. Procópio, Fox Trot, A Paródia e Pavilhão Chinês. Foram todos bares imaginados por Luís Pinto Coelho, resistiram à passagem do tempo, embora apenas o Procópio e o Pavilhão Chinês se mantenham na família do fundador.
A história destas noites começa lá mais atrás, quando, em 1953, aos 20 anos, Luís Pinto Coelho viajou – com Alice Pinto Coelho, então sua mulher, e os sogros – até Paris, e se encantou pelo bar-restaurante Procope. Ficou sempre com a ideia de um dia vir a abrir um bar como aquele. Abriu quatro e assinou a decoração de outros bares e discotecas: a Summertime (em Montechoro), a Twins e a Swing (no Porto), a Diabo (em Lisboa) e o Rasputine, na Alapraia, em Cascais. Por influência da sogra, era colecionador e negociante de antiguidades e, por isso, foram a base das suas decorações.
Nos anos 60, com a mulher e mais três sócios, criou ainda o bar-boutique A Outra Face da Lua, na Rua Rosa Araújo. Maria João, a filha mais velha de Luís Pinto Coelho, explica que “era um bar fabuloso, todo em arte pop”. “Se fosse hoje, seria um bar fundamental da noite em Lisboa”, continua. Funcionou durante dois anos, Luís voltou ao negócio das antiguidades e foi aí que se lembrou do Procope de Paris. Em 1972, na zona das Amoreiras, no alto de um pátio com uma bica de água à porta, nascia o Procópio. Rezam as histórias que ainda hoje por lá se contam que foi frequentado por espiões, jornalistas estrangeiros, agentes da CIA e muitos militares. “Era um bar de complô, o centro dos intelectuais da época”, diz Maria João. O casal separou-se e o Procópio passou a ser gerido, até aos dias de hoje, apenas por Alice.
É nessa altura que Luís parte para outro projeto: a loja de antiguidades, em Campo de Ourique, onde, em 1974, dois dias depois do 25 de Abril, nasce A Paródia, em homenagem a Rafael Bordalo Pinheiro. O bar acaba por ser vendido e, juntamente com um sócio, em 1978, Pinto Coelho abre o Fox Trot, no Príncipe Real. A decoração, mais uma vez, era fruto do seu imaginário e seu gosto. Contou muitas vezes com ajuda da filha, Maria João. “As mesas pirogravadas e as cortinas de vidrinhos foram feitas por mim”, revela Maria João. Também o Fox Trot acaba por ser vendido, surgindo, em 1982, o Pavilhão Chinês, um dos últimos projetos de Pinto Coelho, este lisboeta (que morreu em 2012) apaixonado por cães e muito bem-disposto.