1. Ohio Players
The Black Keys
Quando, em 2011, conseguiu fazer de Lonely Boy (do disco El Camino) um hit global, já o duo Dan Auerbach e Patrick Carney andava na estrada há muito, apurando uma sonoridade muito própria (mas assente nos mandamentos clássicos de blues e rock), feita de voz, guitarra e bateria, mesmo que ninguém desse por ele. O seu primeiro álbum, The Big Come Up, é de 2002. Mais de 20 anos depois, no 12.º álbum de estúdio, este Ohio Players, os The Black Keys conseguem, ainda, surpreender e ser originais? É difícil dizer que sim… Mas, para compensar, sente-se, ainda, uma boa dose de frescura e prazer em fazer discos que soam a Black Keys. Neste caso, tiveram duas ajudas de peso para combater a sensação de mesmice e solidão a dois: vários temas contam com a colaboração de Beck (que até canta, ao lado do rapper Juicy J, no tema Paper Crown) e de Noel Gallagher (ex-Oasis). E nota-se.
2. The Collective
Kim Gordon
É estranho que um dos melhores discos de rock lançados em 2024 tenha a assinatura de uma mulher de 71 anos? Talvez num primeiro momento… Se soubermos que ela se chama Kim Gordon e que a partir de 1981, ao lado de Thurston Moore, ajudou a desbravar caminho numa das mais influentes bandas da história do rock, os Sonic Youth, já não há nenhuma estranheza (mas indica-nos que o tempo passa a correr). Neste segundo álbum a solo (em 2019 saiu No Home Record) há ecos dos Sonic Youth, na sua identidade feita de noise e distorção, mas há, sobretudo, o desejo de continuar a experimentar, a sentir a excitação de fazer música intensa e com poucas regras. As linhas de baixo são pesadas, testando a resistência de colunas e auscultadores a sons graves, as batidas hipnotizantes e a fazerem, por vezes, pensar no lado mais interessante do hip-hop e suas variantes, e a voz de Kim Gordon é servida em registo de spoken word, que tanto evoca experimentações antigas como os possíveis sentidos atuais da expressão francesa “avant-garde”. E logo na primeira faixa, Bye Bye, fica provado que até a recitar uma lista de coisas a não esquecer de levar para uma viagem Kim Gordon é cool.
3. Interplay
Ride
Os britânicos Ride são uma banda com duas vidas. Se tivessem ficado pela primeira (que durou entre 1988 e 1996), seriam vistos, cada vez mais, como uma velha banda de culto, meio etérea, conhecida só por uns happy few que nunca esqueceriam a perfeição do rock de guitarras do disco de estreia, Nowhere (de 1990). Mas em 2014 resolveram voltar à vida e, assim, obrigaram-se a uma existência terrena e ao confronto com o seu próprio passado. Num momento em que a sonoridade e a atitude do shoegaze conquistam muitos miúdos da geração TikTok, esta banda que ajudou a dar corpo a esse movimento não parece especialmente empenhada em regressos ao passado e nostalgias. Optou por uma sonoridade totalmente nova? Também não. É, afinal, (mais) uma banda de pop rock, mais adulto do que jovial, na eterna demanda pela canção perfeita… Às vezes, anda lá perto.
4. All Born Screaming
St. Vincent
Chegamos à sexta faixa do novo disco da norte-americana St. Vincent, Violent Times, e soa-nos familiar. Aquela sensação “acho que já ouvi isto…”. A canção é nova, mas tem a inconfundível marca dos temas que ficam para a história associados a um filme de James Bond. Um acaso? Sim e não. “Não foi intencional”, disse à revista Rolling Stone, na mesma entrevista em que assumia que adoraria mesmo ser autora de um verdadeiro Bond theme. Olhando para os títulos das suas novas canções, parece que vemos St. Vincent (nome artístico de Anne Clark) sintonizada com o momento apocalíptico da Humanidade, envolvida em guerras sem fim – Hell is Near, Broken Man, Big Time Nothing, Violent Times… –, mas a sonoridade não acompanha essa intuição. St. Vincent continua desafiante, irónica e exímia escritora de canções cheias de vida, prontas para se transformarem em atuações eletrizantes em palco.