1. Geração D
Carlos Matos Gomes

No ensaio histórico e na ficção, Carlos Matos Gomes (e Carlos Vale Ferraz, seu pseudónimo literário) tem revisitado e interpretado a História do século XX português. E as suas colunas de opinião, em vários meios, continuam a mostrar como se mantém empenhado na construção do futuro. Faltavam as suas memórias, que chegam agora num volume a que deu o título de Geração D. É uma referência à geração responsável pela democratização, a descolonização e o desenvolvimento do País, mas também àquela que viveu a ditadura, enfrentou dilemas, cumpriu deveres e não poucas vezes encontrou o seu caminho desobedecendo. Porto Editora, 340 págs., €18,85
2. Carlos Antunes, Memórias de um Revolucionário
Isabel Lindim

Escrito na primeira pessoa, a partir de memórias recolhidas por Isabel Lindim, sua enteada, este volume revela-nos a vida, cheia de aventuras, do polémico revolucionário Carlos Antunes (nascido em 1938 e desaparecido em 2021, vítima de Covid-19). Passou à clandestinidade, como membro do PCP, logo aos 21 anos, e em 1970, depois de cortar com o partido de Álvaro Cunhal, formou as Brigadas Revolucionárias (BR), apostando na luta armada para derrubar o regime. Até ao 25 de Abril de 1974, conseguiu sempre evitar a prisão, mas o mesmo não aconteceu já em democracia, tendo ficado detido preventivamente de 1977 a 1982, como “autor moral” de várias ações das BR. Um contributo precioso para melhor se perceber um certo entendimento de ação revolucionária na nossa História. P.D.A. Oficina do Livro, 224 págs., €16,90
3. Mário Soares e o 25 de Abril
David Castaño

Este é, também, o ano do centenário do nascimento de Mário Soares. Ou seja, quando aconteceu o 25 de Abril, já ele tinha 50 anos e não era óbvia a sua afirmação na política portuguesa pós-revolucionária. Afinal, o PS, fundado em 1973, não era ainda considerado um grande partido. Estes textos do investigador David Castaño incidem sobre o posicionamento e o papel de Soares nessa época, focando-se em quatro grandes temas: a relação com Marcello Caetano e o percurso na oposição, a descolonização (como ministro dos Negócios Estrangeiros dos primeiros governos provisórios), a relação com o PCP na procura de um caminho para a democracia portuguesa e a importância dos contactos no exterior para a afirmação e a consolidação do Partido Socialista e do seu líder. P.D.A. Edições 70, 204 págs., €17,90
4. 25 de Abril, no Princípio Era o Verbo
Manuel S. Fonseca e Nuno Saraiva

Se o 25 de Abril tivesse acontecido nos últimos anos, haveria certamente uma enorme quantidade de memes e animações digitais a dar conta das lutas e reivindicações. Mas como aconteceu em 1974, tudo foi analógico e físico, isto é, tudo se disse em voz alta e foi escrito na parede, em cartazes e folhetos. Num dos mais apelativos livros lançados nestas comemorações, o editor Manuel S. Fonseca e o ilustrador Nuno Saraiva recriam as palavras de ordem que marcaram o dia a dia do Processo Revolucionário em Curso e que tinham como alvo todos os setores da sociedade. As frases estão divididas tematicamente, às vezes integradas nas ilustrações de Nuno Saraiva, e Manuel S. Fonseca abre o volume com uma introdução aos momentos decisivos do dia 25 de Abril. Guerra & Paz, 168 págs., €16
5. Memórias Minhas
Manuel Alegre

Há vidas que encerram muitas vidas e, nessa multiplicidade, condensam a História de um país. Eis a marca do percurso cívico, político e literário de Manuel Alegre, sublinhado agora pela publicação das suas memórias. Ao correr da página, sem plano predefinido ou notas acumuladas ao longo dos anos, o poeta, autor de um dos livros mais emblemáticos do século XX, Praça da Canção, viaja pela sua vida, desde a infância até à atualidade, da influência dos seus ascendentes (liberais e republicanos, miguelistas e monárquicos) às suas candidaturas à Presidência da República. Pelo meio, o seu papel ativo (e decisivo) na luta contra o Estado Novo, incluindo em Angola, durante a Guerra Colonial, e em Argel, aos microfones da rádio Voz da Liberdade, assim como a vivência do 25 de Abril e a construção da democracia. Um relato único, também pela simplicidade e pelo apuro da sua composição, feito de inúmeros protagonistas, histórias, ousadias e com uma inquebrantável coragem. D. Quixote, 408 págs., €22
6. A Cidade Democrática
Ana Drago

Problema central da atualidade, a Habitação também foi um dos grandes campos de luta do pós-25 de Abril, com conquistas extraordinárias face ao panorama deixado pelo Estado Novo. Dos bairros de barracas à ocupação de casas, dos movimentos sociais urbanos às propostas de planeamento e urbanismo, Ana Drago passa em revista todo o setor nas décadas de 70 e 80. Em foco estão não só as principais mudanças, mas também o papel dos diversos agentes e partidos políticos. Especial atenção merece ainda a criação de áreas metropolitanas, com grande densidade e pressão habitacional, em torno de Lisboa e do Porto. Tinta-da-China, 392 págs., €19,90
7. Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975
Irene Flunser Pimentel

Ao falar com qualquer pessoa que tenha vivido o Processo Revolucionário em Curso, ficará certamente a ideia de que um dia durava uma semana, uma semana, um mês, um mês, um ano. Muita coisa acontecia ao mesmo tempo e tudo mudava muito rapidamente. Especialista na História do século XX, Irene Flunser Pimentel revela, neste volume, alguns episódios menos conhecidos ocorridos entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975. É uma análise pessoal, fruto de várias pesquisas, suas ou de outros, e de conversas que foi tendo ao longo dos anos. Destaca sobretudo o que aconteceu à ex-polícia política (a PIDE) e a ação, direta ou indireta, dos EUA, de França e da Alemanha em Portugal ou relativamente ao nosso país. Temas e Debates, 472 págs., €20,90
8. Revolução Inacabada
João Pedro Henriques

São indiscutíveis as enormes transformações de Portugal nos últimos 50 anos. Ainda assim, há muitos desafios, lançados pela Revolução de 74 e pela construção de qualquer país democrático, que continuam por resolver ou melhorar. Numa reportagem para a coleção Retratos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, o jornalista João Pedro Henriques debruça-se sobre dois: o elitismo da classe política e o machismo na justiça. De um lado, o predomínio de licenciados na política nacional e a falta de mobilidade entre poder local e central. Do outro, as poucas condenações por crimes sexuais, mesmo depois da entrada de mulheres na magistratura e de alterações às leis. Duas reflexões para os próximos 50 anos. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 96 págs., €5
9. Capitães de Abril – A Conspiração e o Golpe
Rui Cabral e Luís Pinheiro de Almeida

Foi um reencontro único: passados 20 anos do 25 de Abril de 1974, os elementos do Posto de Comando do MFA voltaram a encontrar-se na Pontinha, no Regimento de Engenharia n.º1, de onde dirigiram o golpe militar que derrubou a ditadura do Estado Novo. Foi único e também irrepetível, já que os capitães Garcia dos Santos, Nuno Fisher Lopes Pires, Vítor Crespo, Otelo Saraiva de Carvalho, Hugo dos Santos e Sanches Osório não voltaram a estar todos juntos. A iniciativa foi de dois jornalistas, Rui Cabral e Luís Pinheiro de Almeida, que recolheram as suas histórias e visões da Revolução. A estes depoimentos acrescentaram os de outros protagonistas. Editado em formato revista, em 1994, este valioso testemunho volta a estar disponível, agora em formato livro. Colibri, 250 págs., €18
10. Entre Cravos e Cardos
Thomas Fischer

Estudava jornalismo em Colónia, vivia numa república de estudantes e procurava, com outros simpatizantes de esquerda, uma via alternativa às que se debatiam numa Alemanha dividida. Por prestar especial atenção às ditaduras de Portugal, Espanha e Grécia, soube do golpe militar do 25 de Abril e, decorrido um ano, estava em Lisboa. Thomas Fischer é um dos muitos jornalistas estrangeiros que passaram por Portugal durante o Verão Quente, mas, ao contrário de tantos outros, ficou. Casou-se e, depois de um longo processo, tornou-se português ao fim de 37 anos. Neste livro de memórias, recorda as suas primeiras impressões do País, ao mesmo tempo que reflete sobre meio século de mudanças e constâncias. Um olhar exterior sempre acutilante. Edições 70, 388 págs., €22,90
11. Breve História do 25 de Abril
Yves Léonard

Uma síntese é sempre um olhar pessoal. Na necessidade de condensar uma história tão rica como a do 25 de Abril de 1974, é preciso fazer escolhas. As do francês Yves Léonard passam pelo seu olhar exterior, pelo seu estudo continuado do século XX português e por várias reminiscências pessoais. O professor de História na Sciences Po, de Paris, não viveu a revolução portuguesa nem de perto, nem de longe. Mas em 1981, com 20 anos, apaixonou-se pelos cravos e pelo povo na rua. Tornou-se um estudioso do nosso passado recente e esta Breve História do 25 de Abril surge na sequência de ensaios de grande fôlego: uma biografia de Salazar e uma História da Nação Portuguesa (e das figuras que moldaram a identidade lusa). Como num volume semelhante sobre o 25 de Abril que publicou em 1994, Yves Léonard cruza factos e outros estudos com a visão dos protagonistas, nomeadamente Otelo Saraiva de Carvalho. Uma síntese para explicar o como e o porquê da Revolução, “não deixando de interrogar o sentido do que aconteceu.” Edições 70, 132 págs., €15,90
12. Portugal – 50 Anos Depois do 25 de Abril
João Gouveia Monteiro (org.)

Se, para compreender bem o 25 de Abril, é preciso saber como estava o País ao fim de 48 anos de ditadura, para se perceber o que falta fazer também é necessário ter bem presentes as mudanças que a Revolução permitiu. É esta dupla vertente, a de olhar para o passado e para o futuro, que o livro Portugal – 50 Anos Depois do 25 de Abril oferece. É o resultado de um conjunto de tertúlias organizadas, ao longo de 2023, pela Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, e recolhe, com direção científica de João Gouveia Monteiro, a colaboração de 13 especialistas em áreas tão diferentes como demografia, cidadania, juventude, cultura, jornalismo, saúde mental e utopias. Caminho, 312 págs., €18,90
13. Em Busca do Portugal Contemporâneo
Douglas L. Wheeler e Lawrence S. Graham (org.)

Coordenada por António Costa Pinto, a coleção O 25 de Abril mostra o impacto que a revolução portuguesa teve no estrangeiro, nomeadamente em jornalistas e estudiosos. Nalguns volumes, reúne investigações recentes e comparações ibéricas, como os de Robert M. Fishman, Rafael Durán Muñoz e Lawrence S. Graham (este com um alargamento geopolítico à América Latina). Noutros, recupera obras há muito esgotadas. É o caso de Vozes da Revolução, que reúne entrevistas a 14 militares feitas em 1990/91, e sobretudo deste Em Busca do Portugal Contemporâneo. Trata-se de uma coletânea de artigos pioneiros, fruto de um congresso de 1979, que colocaram os acontecimentos nacionais nas dinâmicas internacionais que atravessaram os anos 60 e 70 do século XX. Tinta-da-China, 392 págs., €23,90
14. Um Fotógrafo na Revolução
Carlos Gil

Não há revoluções sem grandes fotógrafos. E a par de Eduardo Gageiro e de Alfredo Cunha, ambos com edições e exposições recentes, Carlos Gil (1937-2001) é um dos nomes que mais se destacam. Esteve nos principais momentos do dia 25 de Abril e acompanhou a evolução dos acontecimentos nas semanas e nos meses que se seguiram. À semelhança do trabalho de outros jornalistas, nomeadamente os da rádio e da imprensa (e são vários os volumes que voltam a tornar disponível o trabalho que fizeram), as suas imagens são um insubstituível testemunho do que então se viveu. Editado pela primeira vez em 2004, este álbum é agora atualizado com um novo design e uma nova organização. Caminho, 320 págs., €21,90