1. Portuguesa
Carminho
A experiência fica-lhe bem. Carminho vai já no seu sexto álbum, depois de se ter estreado com Fado, em 2009, e de se ter aventurado a cantar Tom Jobim em todo um disco, de 2016.
Em Portuguesa, afirma com solidez a sua identidade no fado contemporâneo. Sobre a voz, estamos conversados. Já a conhecemos bem, com gravidade e frescura ao mesmo tempo, uma dessas vozes que parecem ter nascido para se atirar ao fado. A originalidade de Carminho percebe-se agora, sobretudo nas suas escolhas musicais e na possibilidade de as fazer.
No novo disco, tanto canta letras e composições suas (As Flores e Praias Desertas são só de autoria) como revisita nomes com o peso de Alfredo Marceneiro, Sophia de Mello Breyner, David Mourão-Ferreira, Manuel Alegre (de quem canta o poema É Preciso Saber Porque Se É Triste) ou Joaquim Pimentel, esse homem do Porto que levou o fado para o Brasil. Ao mesmo tempo, Carminho aventura-se em parcerias com novos músicos com carreiras distantes do mundo do fado: há um dueto com Rita Vian, na breve Simplesmente Ser, e temas de Luísa Sobral, Joana Espadinha e Marcelo Camelo. As guitarras elétrica e lap steel de Pedro Geraldes (ex-Linda Martini) vão percorrendo todo o álbum, ora discretas, ora protagonistas. Portuguesa não é uma revolução, mas é um disco de afirmação de um lugar que só pertence a Carminho.
2. Duetos
Carlos do Carmo
Aqui se reúnem vários duetos que marcaram a longa carreira de Carlos do Carmo, nem sempre com artistas próximos do imaginário do fado. A inconfundível voz do cantor, bem o sabemos, prestava-se a todas as aventuras no mundo da música popular. Curiosamente, nesta coletânea, todos os duetos são feitos com artistas masculinos, com uma exceção, uma grande exceção: Loucura, em que ouvimos Carlos do Carmo cantar com a sua mãe, Lucília do Carmo. Chico Buarque (em Fado Tropical), Sérgio Godinho, Camané, Rui Veloso, Paulo de Carvalho, Marco Rodrigues, Pedro Abrunhosa, Dany Silva, Luís Represas, Stereossauro, The Legendary Tigerman, Ala dos Namorados e Sam the Kid são as outras vozes aqui presentes.
3. Popular Jaguar
Tó Trips
Ouvem-se ecos daquela banda que marcou a banda sonora portuguesa do século XXI e que, depois do desaparecimento de Pedro Gonçalves, nunca mais poderá existir. Sim, os Dead Combo andam por aqui, mas Popular Jaguar enquadra-se numa linhagem de discos a solo do guitarrista Tó Trips. O tom é globalmente melancólico, e logo na primeira faixa, Dançar Frente ao Espelho, é fácil pensarmos na grande referência das seis cordas em Portugal, Carlos Paredes. Tó Trips não está sempre sozinho neste seu álbum em nome próprio. Em Amor em Tempos Fodidos (título que pode resumir bem o espírito do álbum), por exemplo, está acompanhado pelo baixista António Quintino e o acordeão de Sadra Baptista (ex-Sitiados e A Naifa). O espírito rocker está sempre com Tó Trips, mesmo quando não podemos chamar rock à sua música.
4. Máximo: Greatest Hits
Máximo
É inevitável pensar na estafada expressão “menino-prodígio” a propósito de Máximo Francisco. Neste álbum de estreia, apresenta, sozinho ao piano, 12 peças suas, criadas entre os 9 anos e os seus atuais 19. Por estes dias, o músico estuda composição de jazz na escola Codarts, em Roterdão, Holanda, e iniciou a formação musical, aos 7 anos, no Conservatório, em Lisboa. É fácil pensarmos em Keith Jarrett, no António Pinho Vargas dos anos 80 ou em Ryuichi Sakamoto viajando nestas teclas. Mas o que aqui ressalta, e surpreende, é a solidez e sensibilidade deste fio musical, que nos revela um músico completo, senhor da sua arte e talento. Ouvir Mártires depois de sabermos que aquela peça foi escrita aos 9 anos parece-nos um pouco da ordem mozartiana do sobrenatural…