1. Pessoa, uma Biografia, de Richard Zenith
A chegada às livrarias da tradução portuguesa da biografia de Richard Zenith dedicada a Fernando Pessoa (o original, em inglês, saiu em 2021) é um acontecimento literário de primeira ordem. Afinal, desde 1950, data do volume biográfico do crítico João Gaspar Simões, que não havia uma tão ambiciosa tentativa de percorrer os labirintos da vida do poeta que morreu em Lisboa em 1935, aos 47 anos. Esse livro, com mais de 70 anos, fez perdurar uma certa imagem de Pessoa (como uma espécie de “escritor maldito”, sempre miserável) que, de algum modo, é agora redesenhada. Zenith considera que a vasta e dispersa obra de Fernando Pessoa foi a sua principal fonte de informação, mas teve também acesso, por exemplo, a cartas de familiares do poeta nunca antes exploradas; teve, sobretudo, o tempo, as ferramentas e os materiais certos para compor este gigantesco puzzle que segue, por ordem cronológica, uma vida reservada e tantas vezes misteriosa. Qualquer leitor com um mínimo de interesse em Pessoa percorre as quase 1 200 páginas deste trabalho notável e exaustivo com prazer. Mostrando como o biografado é complexo, este calhamaço começa com uma apresentação de dramatis personae, onde se apresentam os vários heterónimos e autores inventados por Pessoa. Fica o aviso: vamos entrar na vida de alguém que era, por si, um palco para as vidas de muitos outros. P.D.A. Quetzal, 1 184 págs., €29,90
2. O Essencial sobre o Diário de Lisboa, de Cláudia Lobo
Imprimir o dia a dia nas páginas de um jornal é, mais do que uma demanda diária pela verdade, um desviar constante dos obstáculos que teimam em deturpá-la. Em O Essencial sobre o Diário de Lisboa, Cláudia Lobo (jornalista da VISÃO desde o primeiro número) retrata essa procura, bem como a luta pela liberdade de informação e expressão que marcaram os 69 anos de vida do jornal vespertino. Num registo que oscila entre a narrativa histórica e a reportagem, a autora guia o leitor através das peripécias de uma redação que foi escola para várias gerações de jornalistas e símbolo da dinamização cultural de um Portugal adormecido à sombra do Estado Novo. A importância dos enviados especiais, o espaço para a reflexão e crítica ou a liberdade dada aos jornalistas para escreverem “entre-linhas”, fintando a censura, são alguns dos exemplos que Cláudia Lobo explora, mostrando o papel revolucionário que o Diário de Lisboa desempenhou. M.A.N. INCM, 172 págs., €7,50
3. A Ficção como Cesta, de Ursula K. Le Guin
A Dois Dias, editora independente de Rui Almeida Paiva e Sofia Gonçalves, continua a divulgar textos menos conhecidos de grandes nomes da literatura mundial, nomeadamente reflexões sobre o ofício da escrita. Com o esmero e a originalidade gráficas a que já nos habituou, publica agora A Ficção Como Cesta: Uma Teoria e Outros Textos, quatro ensaios de Ursula K. Le Guin (1929-2918), escritora norte-americana celebrizada pelos seus romances no campo da ficção científica e especulativa. Em comum, um olhar sobre a História e a criação que tenta desmontar as imposições de género, o lugar subalterno da mulher e vários outros estereótipos. No texto que dá título ao conjunto, por exemplo, Ursula defende o lugar primacial, nos primeiros passos da Humanidade, do utensílio que carrega comida (em vez do que mata), da inteligência (em lugar da força) e da cultura humana (em substituição de uma de morte). L.R.D. Dois Dias, 100 págs., €9
4. George Lucas: Uma Vida, de Brian Jay Jones
Não deixa de ser curioso que o realizador que passou grande parte da vida a ilustrar no grande ecrã guerras intergalácticas e fratricidas contra um poderoso império seja hoje, ele próprio, um dos impérios mais poderosos da atualidade. É esse o interesse da biografia de George Lucas, autor de sagas que continuam a marcar gerações de amantes de aventuras e grandes heróis. Da sua infância ao sucesso de Star Wars e Indiana Jones, das primeiras filmagens em Super 8 a novos episódios, desvenda-se um percurso de sucesso e perseverança, ilustrativo das grandes mudanças por que a indústria de Hollywood passou a partir dos anos 70. Com depoimentos de muitos amigos e a voz constante do biografado, é um retrato completo, ao qual não faltam as setas de cupido e aspetos da vida privada (da sua, das personagens a que deu vida, bem como dos atores que as representaram). Uma vida norte-americana numa galáxia muito, muito perto da nossa. L.R.D. Saída de Emergência, 528 págs, € 24,40