1. Gulag: Uma História, de Anne Applebaum
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Publicado em português em 2005, Gulag: Uma História, da jornalista norte-americana Anne Applebaum, é agora – e em boa hora – reeditado. Vencedor do Prémio Pulitzer, o livro tornou-se, desde então, uma obra de referência para compreender o que foram os campos de concentração soviéticos, responsáveis pela morte de milhões de pessoas (as estatísticas oficiais indicam dois ou três milhões, mas a autora calcula que deve ter sido o dobro), e um exemplo de obra de investigação em que, à boa maneira anglo-saxónica, o jornalismo se aproxima da historiografia sem nunca perder o sentido narrativo. Como explica Applebaum – profunda conhecedora dos regimes comunistas da Europa de Leste, e que atualmente pertence ao corpo redatorial da revista The Atlantic –, no seu sentido mais lato, gulag passou também a significar “o próprio sistema repressivo soviético, o conjunto de processos a que os prisioneiros um dia chamaram ‘picadora de carne’”. Para Applebaum, a maneira como a Rússia evitou discutir a História teve consequências na formação da atual sociedade civil russa: “Se os velhacos do antigo regime ficam impunes, o bem nunca pode ser considerado vencedor na luta contra o mal.” Gulag: Uma História é porventura um dos melhores livros para compreender o modo como o passado continua a pesar sobre a Rússia mais do que sobre qualquer outro país. S.B.L. Bertrand Editora, 728 pág. €24,40
2. A Revolução Russa, de Sheila Fitzpatrick
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Lançada em Portugal em 2017, no centenário dos dez revolucionários dias que abalaram o mundo, é uma das poucas obras editadas em Portugal sobre as mudanças decorridas na Rússia desde o início do século XX até às purgas estalinistas dos anos 30. Nela, a historiadora australiana Sheila Fitzpatrick, especialista em História Moderna da Rússia, analisa, de forma equilibrada e distanciada, as causas e consequências da Revolução de Outubro e da guerra civil entre “brancos” e “vermelhos”, que viria a consolidar o poder dos bolcheviques. O livro, publicado num formato de bolso agradável de manusear, é uma das obras recomendadas para aprofundar o conhecimento sobre os acontecimentos que há mais de 100 anos mudaram o futuro da Rússia, e de uma parte importante da Europa de Leste – Ucrânia incluída. C.T. Tinta-da-China, 327 págs., €15,90
3. Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch, de Aleksandr Soljenítsin
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Não é só mais um livro de Soljenítsin (Nobel da literatura em 1970). Este volume simboliza bem o lugar do escritor russo, nascido em Kislovodsk em 1918, na literatura do seu país. Foi publicado originalmente em 1962, mas parte de textos escritos no inverno de 1950/51, quando o autor estava no campo de trabalhos forçados de Ekibastuz. Numa nota final, Soljenítsin faz questão de dizer que as personagens em torno do protagonista, Ivan Deníssovitch, “são reais, recolhidas da vida no campo, e as suas biografias são autênticas”. Este retrato muito realista do quotidiano nos gulags estalinistas foi publicado na URSS durante o período de abertura promovido por Krutchev, mas anos depois seria proibido. P.D.A. Livros do Brasil, 144 págs., €15,50
4. A Invenção da Nova Rússia, de Arkady Ostrovsky
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Como é que a Rússia chegou até aqui? Para responder a esta pergunta, Arkady Ostrovsky lança-se numa longa viagem ao passado recente do seu país. Dizemos longa não por abarcar muitos anos, mas pelas muitas e intricadas estradas percorridas. Afinal, estamos a falar de três décadas, desde o fim da Guerra Fria à atual invasão da Ucrânia (arco temporal que se reduz, se nos focarmos na guerra com a Geórgia, em 2008). Para o editor do jornal The Economist e antigo correspondente em Moscovo, onde nasceu, o enigma reside no facto de as mesmas elites que promoveram uma abertura estarem agora a colaborar num fechamento. Recuando a 1991, Ostrovsky reconstitui a afirmação nacionalista e populista de Putin, sem esquecer os equívocos do Ocidente. O livro acaba em 2016, mas notícias que nos chegam da Ucrânia confirmam muitas intuições do autor. L.R.D. Clube do Autor,400 págs., €18
5. O Fim do Homem Soviético, de Svetlana Aleksievitch
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O Fim do Homem Soviético foi o primeiro livro de Svetlana Aleksievitch a ser traduzido para português, mas antes de o ter lançado (em 2012) a jornalista bielorrussa (nascida no oeste da Ucrânia, em 1948) já tinha assinado vários livros com o estilo único que se tornou a sua imagem de marca. São como grandes reportagens polifónicas, em que a autora fica completamente fora de campo, dando voz às pessoas com quem conversa longamente em textos escritos na primeira pessoa, como testemunhos. O Fim do Homem Soviético venceu vários prémios importantes e abriu caminho para o Nobel da Literatura que Svetlana ganhou em 2015 (o primeiro para uma jornalista). Neste livro, aborda a relação dos russos com a queda do império soviético e as utopias a ele associadas. “Em pouco mais de 70 anos, no laboratório do marxismo-leninismo criou-se um tipo humano especial: o Homo Sovieticus”, escreve na introdução (intitulada “Notas de uma Cúmplice”). Ouvindo centenas de pessoas, Svetlana deparou, mesmo entre os mais jovens, com uma nostalgia russa pelos tempos e imaginários da URSS. “Encontrei nas ruas jovens com a foice e o martelo e o retrato de Lenine nas camisolas. Saberão eles o que é o comunismo?”, pergunta. Esta obra inclui-se numa série ambiciosa, com tanto de jornalístico como de literário, chamada Vozes da Utopia, em que Svetlana aborda também as vítimas russas da Guerra do Afeganistão, o papel das mulheres da URSS na II Guerra Mundial ou as consequências trágicas do desastre nuclear de Chernobyl. P.D.A. Porto Editora, 472 págs., €19,90
6. A Mais Breve História da Rússia, de José Milhazes
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O lançamento deste livro, ocorrido uma semana antes da invasão da Ucrânia, parece golpe de marketing, mas não é – ele há mesmo coincidências. Tanto que A Mais Breve História da Rússia tem início no século VI a.C., ao recordar a origem dos povos eslavos e a união de tribos que passaram a habitar a região do rio Dniepre e do lago Ilmen e chega até à crise da Crimeia e do Donbass, em 2014, e à revisão constitucional levada a cabo por Vladimir Putin para se eternizar no poder. Escreve José Milhazes – conhecido jornalista que desde 24 de fevereiro tem sido presença assídua nos ecrãs televisivos, a contextualizar e a comentar o conflito ucraniano – nas últimas linhas: “O Kremlin assinou com Pequim um conjunto de acordos que pretendem mostrar que a Rússia pode dar-se ao luxo de virar as costas ao Ocidente e virar-se par Oriente.” Na mouche. S.B.L. Dom Quixote, 300 págs. €18,80
7. Putinlândia, de Bernardo Pires de Lima
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Este não é um ensaio sobre a Rússia, nem sobre o lugar que o vasto país ocupa no mundo. Trata-se, sim, explica Bernardo Pires de Lima, de uma reflexão sobre aquilo que o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (e colunista da VISÃO) intitula “putinocracia”, ou seja, a forma como Vladimir Putin moldou a Rússia à sua imagem, estendendo influências à Europa. Putinlândia, livro publicado em 2016 com o qual o autor venceu o Prémio José Medeiros Ferreira, reúne uma série de análises e explicações que ajudam a entender – e a refletir sobre – a Rússia de Putin, há 22 anos no poder e com altos níveis de popularidade, apesar de uma crise económica bastante acentuada. I.B. Tinta-da-China, 168 págs., €14,90