1. “Dragon New Warm Mountain I Believe In You”, Big Thief
Boa parte da identidade dos Big Thief (que se estrearam em disco em 2016) vem do modo de cantar de Adrianne Lenker: frágil, aparentemente inseguro e periclitante, mas perfeito para servir as suas palavras que, muitas vezes, soam logo à primeira audição a peças clássicas e notáveis de songwriting americano. No novo disco continuam a percorrer o mesmo caminho, só seu, intemporal, livre, em nome de um folk quase sempre etéreo e atravessado por uma inescapável melancolia – como um spleen made in USA…
2. “Ants From Up There”, Black Country, New Road
Entramos no novo disco dos britânicos Black Country, New Road e parece que chegámos, antes, a um clássico exemplar dos registos de free jazz de Ornette Coleman. Essa Intro, de menos de um minuto, mostra-nos, afinal, que revisitam os mesmos territórios com que se apresentaram no álbum de estreia, For the First Time, lançado há um ano. Foram rapidamente alcandorados a nova coqueluche da música indie feita em Inglaterra pela amálgama surpreendente da sua música – uma liberdade que os fazia percorrer com segurança caminhos do rock, do pós-punk, do jazz e de músicas tradicionais (com destaque para os ritmos judaicos klezmer). Neste segundo disco, o registo eclético e seguro mantém-se (mas na adição final, a parcela “klezmer” foi praticamente subtraída). Marcante, mais uma vez, é a forma de cantar de Isaac Wood, em letras entre o confessional e o absurdo: very british, a fazer lembrar um Jarvis Cocker ou um Neil Hannon com doses extra de ansiedade e angústia. As canções serpenteiam, entre violinos, saxofones e o piano, com curvas surpreendentes, e variações súbitas dignas do jazz mais livre… Mas neste Ants From Up There acontece-lhes, por vezes, seguirem num caminho épico, em crescendo (por exemplo, no tema Concorde), que faz pensar no modo como os canadianos Arcade Fire arrebatam o seu público. A verdade é que nunca saberemos ao que soariam estes Black Country, New Road no futuro. No final de janeiro a banda anunciou, sem explicações, a saída precisamente de Isaac Woods, uma das peças mais marcantes da sua identidade… Ou seja: ao mesmo tempo que superam, com distinção, o difícil teste do segundo disco que sucede a uma estreia brilhante, os Black Country, New Road anunciam uma espécie de fim… Ou será só um recomeço?
3. “Lucifer on the Sofa”, Spoon
Já andam nisto há mais de duas décadas, mas como tantas vezes sucede na história de bandas americanas, a conquista do mundo foi uma viagem lenta e incerta (os R.E.M. serão sempre um bom exemplo desse fenómeno). Os argumentos destes texanos nunca foram revolucionários: boas canções pop rock, a pisarem o risco que separa o universo indie/alternativo da indústria mais mainstream. Depois de Hot Thoughts (de 2017, que rompeu fronteiras, com vários hits dançáveis e uma produção mais complexa e eletrónica do que o habitual), este Lucifer on the Sofa, concretizado ao longo dos quase dois anos de pandemia, é um regresso a um modo mais simples e direto de fazer. E o sublinhar da voz própria que os Spoon conseguiram criar ao longo dos anos.
4. “Let the festivities begin!”, Los Bitchos
É apresentada como uma banda londrina, com o dedo de Alex Kapranos (Franz Ferdinand) na produção, mas se soubermos que Serra, Nic, Josefine e Agustina têm raízes na Austrália, no Uruguai, na Suécia, na Turquia e, sim, em Inglaterra, percebemos melhor de onde vem este som único. O álbum de estreia das Los Bitchos apresenta 11 faixas instrumentais, sempre festivas, que misturam ritmos da América Latina (como a cumbia), psicadelismos com sabores turcos e do Médio Oriente e referências pop rétro. Tudo somado é uma proposta bem contemporânea, a fazer pensar noutra banda multicultural, mas nascida nos EUA: os Khruangbin. Neste verão, vão apresentar-se no festival Super Bock Super Rock, no Meco. Comecem, pois, as festividades pós-Covid!