Ensemble quer dizer, em francês, “em conjunto” ou “juntos”. Em música, designa um grupo de músicos. No seu novo trabalho, Júlio Resende junta os dois géneros musicais que lhe são queridos: o jazz, com o qual nasceu como músico, e o fado, que lhe deu palco. São nove temas em que conjuga o piano com a guitarra portuguesa (Bruno Chaveiro), o contrabaixo (André Rosinha), a bateria (Alexandre Frazão) – e, na última faixa, a voz (Lina Rodrigues).
“Não há estilos nem géneros musicais; o género é a música”, diz Júlio Resende, cujo oitavo disco, Jazz Fado Ensemble, foi lançado ao mesmo tempo em Portugal e em Espanha
O álbum começa com um vira, um tema num compasso cinco por quatro, pouco usual, em que o músico encontrou reminiscências de uma figura que muito admira, Zeca Afonso – e chamou-lhe Vira Mais Cinco (para o Zeca). Não é o único tema com ligações à música popular: Lira é uma canção tradicional dos Açores, doce e elegante, em que piano e guitarra portuguesa vão cantando à vez.
O estado de espírito muda com o arrojado Fado das 7 Cotovias, que dá largas à capacidade de improvisação do músico. É também o fado o ponto de partida para a balada Este Piano Não Te Esquece, Fado Blues (dedicado aos Deolinda) e Fado Maior Improvisado (nunca se ouviu um fado tão acelerado!). Já All The Things – Alfama – Are é a recriação de um conhecido standard norte-americano, All The Things You Are. E se em Tiro No Escuro o pianista decidiu não gravar a letra que escreveu para esse seu tema, em Profecia perdeu a vergonha e estreia-se como letrista: “Uma mulher que espera/ por quem não sabe esperar/ ela mostra-lhe o caminho/ e ele escolhe outro lugar.”
Se se tivesse de definir a carreira de Júlio Resende numa palavra, ela seria “liberdade”. O músico começou pelo jazz, aventurou-se no fado, produziu e tocou com Salvador Sobral, esteve na Eurovisão, criou uma banda pop, gravou um disco de poesia com Júlio Machado Vaz e, em 2018, lançou um álbum de música eletrónica, Cinderella Cyborg. “Gosto de fazer coisas que nunca fiz”, diz.
