Foi em 2001 que o mundo começou a falar de Rufus Wainwright, após a edição do seu segundo disco, o clássico Poses. Nele, o cantor mostrava-nos um registo intimista, sensível e intenso, com a estrutura clássica das canções sempre numa muito próxima primeira pessoa. E se os discos seguintes continuaram a ser bons, nenhum voltaria a alcançar tamanha relevância, até pelas estranhas escolhas de carreira que Wainwright foi fazendo. O seu último álbum de originais era de 2012 e, nos últimos largos anos, a sua atenção foi sendo empregue em óperas e até num disco baseado em sonetos de Shakespeare. Numa altura em que a indústria discográfica tanto mudou e em que as estratégias de marketing são cada vez mais importantes, Rufus é um caso à parte.
Uma das razões para a demora de um novo disco de originais foi o florescimento da vida pessoal de Rufus Wainwright. Em 2012, casou-se com Jörn Weisbrodt e, um ano antes, através de inseminação artificial, foi pai de Viva Katherine Wainwright Cohen, filha de Lorca Cohen e neta de outro ilustre canadiano, Leonard Cohen.
E no ano da pandemia de 2020, chega finalmente um digno sucessor de Poses, este Unfollow the Rules. É o regresso ao formato de canção pop, sem que, aqui, isso signifique qualquer relaxamento em direção ao facilitismo. Este é, aliás, um disco muito clássico, que tanto poderia ser de 2020 como de 1970, seguindo as influências que sempre estiveram na obra do músico canadiano e norte-americano: a pop clássica, algum country rock e ecos da insubstituível Joni Mitchell, tudo temperado por cordas e pela voz de Wainwright que mantém aquele tom nasalado, mas que vai ganhando outra solidez e tonalidades com a idade.
O parto de Unfollow the Rules não foi fácil. Depois do lançamento do primeiro single, Trouble in Paradise, há mais de um ano, a edição do disco foi finalmente agendada para abril, só para ser adiada devido à pandemia da Covid-19, com as cópias dos CD e dos discos de vinil paradas nos armazéns fechados. Valeu a pena a espera. Unfollow the Rules consegue ir buscar um pouco a quase todas as fases da carreira de Wainwright, num conjunto de canções muito fortes e de extremo bom gosto. Rufus chegou à maturidade, e isso fica-lhe muito bem.