Em 2018, por altura do lançamento do disco Mundu Nôbu, Dino d’Santiago resumia só com dois verbos o longo processo para chegar ao resultado final: “Acrescentar, acrescentar, acrescentar… Tirar, tirar, tirar…” No álbum em que mais se aproximou das suas raízes cabo-verdianas, acabou por encontrar caminhos novos, com a ajuda de Kalaf Epalanga e do produtor anglo-nipónico Paul Seiji, misturando tradição com arranjos eletrónicos dum universo urbano e absolutamente cosmopolita. Kriola, o disco lançado de surpresa no início deste mês de abril, é a continuidade, passo a passo, nesse trilho. Não se pode, propriamente, dizer que é uma fórmula. É um método, uma prática, muito longe de estar esgotado.
A máquina, agora, está bem oleada e tudo foi muito mais rápido na composição e na gravação – com muitos dias de trabalho em Londres mas com o epicentro, e o coração, numa Lisboa de boas misturas, crioula. “A linha de Sintra fala a língua da Cesária”, ouve-se logo na primeira faixa, Morabeza (nananana).
Os oito novos temas, cantados em crioulo e em português, resultam quase sempre duma matriz sediada na rica música de Cabo Verde (funaná, tarraxo, batuque…) processada com elementos da música eletrónica, mais ou menos discretos, às vezes até bem complexos (notando-se o gozo do trabalho dos músicos em não se satisfazerem com as primeiras soluções). Todos bem diferentes e todos iguais, afinal, numa certa estética, e ética, no ato de fazer música popular no século XXI.
Mas a personalidade de Dino d’Santiago – e o seu o franco sorriso que, por vezes, parece ver-se por detrás da música – é, aqui, o essencial. Nos últimos tempos, Dino tornou-se uma espécie de símbolo, figura agregadora, de mais um capítulo (ou será sempre o mesmo?) desta Lisboa que se abre em várias direções e sabe fazer a festa com muitos ritmos, que passam a ser seus também.
Veja o vídeo da música Kriolu feat. Julinho KSD